PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
CAETANO VALADÃO SERPA
O Doutor Caetano Valadão Serpa é uma das mais importantes e prestigiadas figuras fajãgrandenses da actualidade. Nasceu, em 24 de Janeiro de 1936, no lugar da Ponta, sendo seus pais António Serpa e Virgínia Valadão. Fez a escola primária, na altura ainda no Posto Escolar da Ponta e cedo se manifestou um jovem sóbrio, educado, cativante, de grande inteligência e com uma enorme vontade de aprender, pelo que, ainda muito novo, abandonou a ilha das Flores com destino à Terceira, entrando para o Seminário de Angra, em Setembro de 1949, onde estudou durante toda a década de cinquenta e onde foi um aluno exemplar e aplicado, manifestando grande apetência pelo estudo e pela aprendizagem. Terminado o curso de Teologia no início da década de sessenta, mais concretamente, em 1961, a excelência do seu currículo como aluno, no Seminário, fez com que fosse enviado para Roma, pela diocese de Angra, com o objectivo de se formar em História da Igreja, disciplina integrante do currículo disciplinar do Curso de Teologia do Seminário, nessa altura, no entanto sem professor especializado. Enquanto estudante, passava as férias de Verão na Ponta, deslocando-se, com muita frequência à Fajã, onde, irradiando ternura, simpatia e simplicidade, era muito querido, estimado e respeitado por todos.
Assim e em Roma, nos primeiros anos da década de sessenta estudou e licenciou-se em História do Cristianismo e Ética na Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma e em Teologia na Pontifícia Universidade Lateranense. Depois de visitar muitas outras cidades europeias, abandonou Roma e regressou aos Açores e ao Seminário de Angra, como professor de Teologia e História da Igreja e prefeito dos Teólogos, onde permaneceu apenas durante um ano. Com a sua inesperada e abruta saída, a disciplina de História da Igreja voltava a ser entregue a professores não especializados. Nos anos seguintes leccionou no Seminário Colégio de Ponta Delgada as disciplinas de Língua Portuguesa, Francês e História. Quer em Angra quer em Ponta Delgada, cativou os seus alunos com a sua sabedoria, competência e sobretudo com a sua amizade e simpatia e ainda, porque, no caso do Seminário de Angra trouxe, juntamente com outros professores, uma lufada de “ar fresco” ao ensino tradicionalista da Teologia, da Moral e da História assim como aos métodos pedagógicos que ainda eram utilizados. Em meados dos anos setenta emigrou para os Estados Unidos da América, doutorando-se, anos mais tarde, em Modern European History. Investigador, professor e escritor, especializou-se em Psicologia do Aconselhamento na Lesley University e em Técnicas de Mediação e de Conflitos na Haward University, Cambridge, MA. É autor de várias obras literárias, entre as quais Gente dos Açores, livro escolhido pelo Congresso Norte Americano para ser um dos primeiros livros editados em braile, Guiomar, obra já traduzida em inglês, Gente sem nome e, mais recentemente, Uma Pessoa só é Pouca Gente, obra “em moldes de ficção literária de perfil biográfico”, “com o objectivo de salientar as limitações e contradições do celibato eclesiástico imposto como condição absoluta para a ordenação sacerdotal”, na Igreja Católica Romana. É colaborador de vários jornais e revistas, orador e conferencista. Actualmente é Presidente da L. & V. Associates, director do “Projecto Família-Educação”, Membro da International Network of Scholars e foi Presidente da Comissão Organizadora do Primeiro Congresso dos Portugueses na América. Depois da curta experiência como professor nos Açores, continuou a dedicar-se ao ensino nos Estados Unidos, leccionando no Cambridge Rindge & Latin School, Cambridge, MA e no Harrington School. Actualmente é professor de Língua e Cultura Portuguesa na Universidade de Massachusetts e dedica grande parte do seu tempo ao estudo dos problemas relacionados com a emigração. Reside actualmente na cidade americana de Arlington, perto de Boston, no estado de Massachusetts.
Tem visitado com alguma frequência a ilha das Flores e a Fajã Grane e esteve presente no primeiro Encontro de Antigos alunos das décadas 50/60, que teve lugar em Angra no passado mês de Julho, trazendo consigo uma serenidade invulgar, uma excelência de atitudes e uma enorme capacidade de dialogar e de ouvir, agraciando todos com a sua simpatia e amizade, enriquecendo aquele Encontro, de sobremaneira, com a sua presença.
Em texto por ele escrito e publicado recentemente no “Mundo Açoriano”, considerou aquele encontro como um “filme das memórias do passado agora, de certo modo presentes, na companhia de muitos dos seus protagonistas” e ainda “um encontro de pessoas com rica experiência humana e sólida preparação intelectual…” que desde o início, primou pela “alegria do reencontro que transparecia no rosto de todos, vinda bem de dentro proclamando, sinceramente, sentimentos genuínos que o tempo e a distância não tinham conseguido olvidar…” um “mundo de recordações e momentos marcantes, horas de diversos sabores e inolvidáveis experiências que, agora, brotando em catadupa espontânea, tornaram o acontecimento num dos mais felizes de sempre”.