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CANTAR “OS ANOS BONS”

Segunda-feira, 01.01.18

Todos anos alguns grupos de crianças percorriam todas as ruas da Fajã Grande, no primeiro dia do ano, com o objectivo de cantar “OS ANOS BONS”, junto das portas de quase todas as casas, excepção para as que estavam de luto ou tinham algum enfermo em estado grave. Estes grupos organizavam-se alguns dias antes e tinha como principal critério de formação a idade. Os mais velhos formavam grupos entre si e os mais novos procediam da mesma maneira. Em todos os grupos havia um chefe ou líder que tinham como funções principais formar, preparar e liderar o grupo e ainda a de receber o dinheiro e no fim o dividir equitativamente por todos os membros. No dia de Ano Novo lá iam pelas portas das casas, tocando gaita, ferrinhos e cantando, a fim de que a dona da casa desse uma moedita ou um copinho de licor ou um punhadito de figos passados.

Sempre integrei o grupo dos mais novos que alguns anos depois se desfez, sobretudo porque a maior parte abandonou a ilha com destino à América e ao Canadá. Recordo-me que o líder do meu grupo era o José Nunes, que morava na Fontinha, perto da casa da minha avó e tocava muito bem gaita. Era na loja dele que ensaiávamos e era lá também que terminado o périplo pela freguesia nos juntávamos para contar e dividir o dinheiro, sempre com grande rigor e sem trafulhices ou batota, Faziam parte do grupo para além do José Nunes e de mim, o Heitor, o José do Urbano, o José Tobias, o Antonino Lourenço e o José Gabriel.

 Chegados juntos da casa cantávamos a primeira quadra desejando aos donos Bom Anos:

 

Anos Bons e tão Bons Anos,

Deus vos dê de melhorados,

Tudo isto passou Cristo

Perdoai nossos pecados.

 

Ó senhora dona da casa

Raminho da salsa crua

Lá aos pés da sua cama

Nasce o Sol e põe-se a Lua

 

 Se a porta se abria logo, sinal de que nos haviam de dar alguma coisa, cantava-se esta quadra:

 

A senhora Mariquinhas

Assentada na cadeira

Parece um botão de rosa

Apanhado na roseira.

 

         Se a porta demorava em abrir-se ou nem sequer se abria, sabendo nós que a dona estava em casa, cantavam-se estas:

 

Ò Senhora Mariquinhas

Meu raminho de tremoço

Venha-nos abrir a porta

Se não canto até ao’almoço.

 

Ò Senhora Mariquinhas

Coração de pedra dura,

Venha-nos abrir aporta

Estou co’a mão na fechadura.

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publicado por picodavigia2 às 00:05





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