PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
COMPASSO
Esta tarde de domingo de Páscoa, a minha rua, de nome José Bragança Tavares, aqui no lugar da Fonte Sacra, assim como todas as outras ruas e artérias da jovem cidade de Paredes, engalanou-se, de alto a baixo e de um extremo ao outro, para receber com pompa e circunstância o “Compasso” da Páscoa e os harmoniosos acordos musicais da Filarmónica que o acompanhava. Dando cumprimento a uma secular tradição religiosa, algumas cruzes, devidamente ornamentadas e acompanhadas pelo singelo badalar de campainhas, transportadas por acólitos vestidos de branco e homens trajando opas vermelhas, durante largos minutos, percorreram os passeios, ultrapassaram os portões e entraram pelas casas anunciando a Boa Nova da Páscoa, enquanto a filarmónica expelia acordes harmoniosos num singelo e nada habitual peregrinar por esta via. Das varandas e janelas o povo aclamava com palmas e manifestava gestos de alegria, de paz e de felicidade, anestesiando, por momentos, o tumulto e o burburinho quotidianos e frenéticos desta diariamente movimentada artéria que liga a Circular Rodoviária Interna de Paredes a Mouriz.
As cruzes eram cinco, com sete elementos cada: dois tocadores de campainha, o portador da cruz, o representante do pároco, o portador da caldeirinha, o recolector dos envelopes com as prebendas e um mestre-de-cerimónias. Por sua vez a filarmónica, que tive a oportunidade de observar, minuciosamente, do alto, como se duma vista aérea se tratasse, com 57 elementos: 52 tocadores, dois controladores de tráfico, dois porta estandartes e o maestro.
Como a fronteira entre as paróquias de São Salvador de Castelões e de Mouriz está pouco claramente definida, gera-se alguma confusão, relativamente, à responsabilidade da visita Pascal. Pior ainda. Como não há via que as separe, compassos e filarmónica, ao transitar de Perrace para a José Bragança Tavares, foram forçados a um difícil corta-mato, tudo, no entanto, se desenrolando com muita alegria e divertimento.
Nos ares rebentam bombas e foguetes, mas estas cada vez menos, que a crise também se faz sentir nestas andanças.