PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
CORNUS TIBI
Conta-se que antigamente, na ilha do Corvo, os homens, sobretudo os mais novos que os velhos não tinham paciência para se entregarem a tais devaneios, festejavam o dia 25 de Abril, vulgarmente designado por «Dia de Cornos» com um cortejo bastante original, pois segundo consta mão era realizado em nenhuma outra ilha açoriana. Os homens juntavam-se no Outeiro, frente à Casa do Espírito Santo e organizavam um cortejo em que seguia um carro de bois, em cima do qual iam os homens que tinham casado naquele ano e que era puxado pelos que tencionavam casar durante o mesmo. Por sua vez os que estavam namorados mas não sabiam ainda quando haviam de casar, iam à frente, munidos de vassouras, a varrer o caminho para o carro passar. O cortejo percorria as principais ruas da vila e regressava ao Outeiro, onde estava uma coroa enfeitada com chifres, presa a um mastro de bandeira, que descia através duma roldana, com a qual o Mordomo da festa coroava todos os que por ali passavam.
O Mordomo da festa, ao fazer descer a coroa e ao enfiá-la na cabeça do coroando e possível candidato a corno, dizia, em latim macarrónico:
- Cornus tibi.
Ao que o mesmo devia responder:
- Amem.
Embora a maioria dos corvinos se divertisse com esta fantasiosa brincadeira, pelos vistos, alguns homens havia que, naquele dia, não passavam pelo Outeiro para não apanharem com a dita cuja na tola. Lá sabiam eles porquê…