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CURRICULUM VITAE

Terça-feira, 16.01.18

João Joaquim Fagundes Júnior, filho de António Lourenço Fagundes e de Maria de Jesus Fagundes, neto paterno de José Lourenço Fagundes e de Mariana Joaquina de Jesus e materno de António Joaquim Fagundes e de Policena Joaquina da Silveira, nasceu a 18 de Outubro de 1902, na freguesia da Fajã Grande, Concelho das Lajes, ilha das Flores, Açores. Foi baptizado na igreja paroquial da mesma freguesia, pelo vigário Joaquim Ferreira Campos, onde também fez a primeira comunhão. Crismou na mesma igreja, em 1925, a quando da visita pastoral às Flores, do bispo diocesano, D. António Augusto de Castro Meireles, sendo seu padrinho, Manuel Luís de Fraga, na altura, aluno do Seminário de Angra. Casou na igreja paroquial da Fajã Grande, com Angelina da Natividade Fagundes, no dia 28 de Maio de 1938, oficiando o casamento, o pároco padre Manuel de Freitas Pimentel. Deste casamento nasceram seis filhos: José, Maria, António, Carlos Vitória e Francisco. Faleceu em 16 de Janeiro de 1966, na Casa de Saúde de São Rafael, da Ordem Hospitaleira de São João de Deus, de Angra do Heroísmo, ilha Terceira e, após a missa cantada pela capela do Seminário de Angra e de corpo presente, seguida de solenes exéquias na capela de São João de Deus, presididas pelo Reitor daquele Seminário, cónego Dr Artur Pacheco Custódio, foi sepultado, nesse mesmo dia, no cemitério municipal da cidade de Angra do Heroísmo. 

João fez a instrução primária na Fajã Grande, tendo aprendido apenas a ler e a escrever, sem, no entanto, fazer o exame final. O excessivo trabalho em que já se envolvia, apesar de criança, e a manifesta de falta de tempo e de dinheiro impediram-no de se deslocar a Santa Cruz, onde aquele exame era feito. Aos onze anos já trabalhava nos campos e tratava dos animais. Ainda criança aprendeu com o pai, a cavar, a lavrar, a sachar, a semear, a plantar, a estrumar, a ordenhar e a realizar todo o tipo de trabalho relacionado com o amanho da terra e tratamento do gado.

Com a doença e idade avançada do seu progenitor, sessenta anos mais velho do que ele, e depois da partida para a América de todos os irmãos, João passou a ser o único responsável por todo trabalho agrícola das terras que o pai possuía, assim com do tratamento dos animais bovinos que criava. Durante muitos anos e após o falecimento do pai, João ainda teve a seu cuidado a mãe idosa e acamada e uma irmã doente mental. Ambas foram tratadas por ele, mais tarde com a ajuda de Angelina, com carinho, dedicação e cuidado, mesmo após a chegada dos filhos.

João foi um agricultor sábio, competente e trabalhador. Conhecia como ninguém as sementes, as plantas, os arbustos, as árvores e até todas as mondas e ervas daninhas. Lia nos astros e nas nuvens informações sobre sementeiras e colheitas. Tanto se orientava pelo vento, como pela chuva ou pelo Sol e pelos musgos das paredes. Apesar do muito trabalho, nas horas vagas, João, enquanto jovem, dançava nos arraias e danças de carnaval, cantava em festas e foi folião do Espírito Santo, sendo-lhe entregue o papel de actor principal, na encenação de uma peça de teatro, ensaiada e apresentada na Casa do Espírito Santo de Cima, nos anos trinta.

Mas João não se limitava a trabalhar nos poucos campos que o pai lhe deixara. A fim de garantir qualidade no sustento e alimentação dos filhos e sonhar com um futuro melhor para eles, arroteou espaços bravios e desbravou terrenos incultos, transformando uns e outros em campos aráveis. Do Mimoio arrancou pedras, partiu calhaus, juntou pedregulhos e transformou aquele andurrial num dos melhores cerrados de milho da freguesia. Na Cabaceira cortou incensos, arrancou faias, levantou paredes e construiu bardos, no meio dos quais plantou árvores de fruta e cultivou inhames. Nas Águas juntou as pedras caídas da rocha, com elas fez maroiços, transformando aquelas encostas escarpadas em pastagens de relva verdejante. No Pocestinho arrancou cana roca, cortou “feitos” de modo a que aquele recôndito e inculto terreno produzisse incensos para o gado e lenha para o lume. Como se isso não bastasse ainda arrendou uma quinta na Cancelinha, considerando que as laranjas ali produzidas seriam um manancial de saúde e fortaleza para os filhos.

A casa que os pais lhe haviam deixado era pobre, velha, fria e descaída. João economizou, criou gueixos para vender e com esse dinheiro assoalhou a cozinha e tabicou a sala e o quarto, tornando-a mais confortável e acolhedora. Com a venda de outro boi canalizou água, colocando uma torneira na cozinha e uma pia de lavar roupa, no pátio traseiro, contíguo à casa, evitando, assim, que a filha continuasse a ir lavar à ribeira.

João, embora, a maior parte das vezes, comprando fiado, nunca ficou a dever nada nas lojas, pagando sempre o que comprava, Era leal nos seus contractos, honesto nos seus negócios, fiel aos seus compromissos, humilde nas suas atitudes, nunca faltando à palavra dada ou à promessa feita. Não ofendia, não intrigava, não fazia guerrilhas, nem enveredava por mexeriquices ou confusões. Ocupava-se com a sua vida, com o seu trabalho, com os seus filhos, com os seus problemas e com a sua precária saúde. Isso lhe bastava.

João, com a sua vida e o seu trabalho, apesar de pobre, deixou aos filhos o mais belo testemunho de honestidade, de nobreza de carácter, de dignidade, de singeleza, de correcção e de bons costumes.

Mas o infortúnio havia de o marcar. Para além de ter que se deslocar à Terceira, a fim de ser operado ao estômago, foi acometido de uma estranha e preocupante doença mental por três vezes, sendo que, outras tantas, foi internada na Casa de Saúde de São Rafael, em Angra do Heroísmo. Mas mesmo aí, João foi sempre um modelo de bondade e simplicidade, granjeando a amizade e a simpatia não apenas dos religiosos que ali trabalhavam, mas também e sobretudo dos outros doentes que, como ele, sofriam o infortúnio daquela terrível e desgastante maleita.

 

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publicado por picodavigia2 às 00:05





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