PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
DO CILINDRO AO CANTO DO AREAL
Aquela que hoje é considerada uma das mais interessantes avenidas marginais da ilha das Flores, outrora era uma simples e tortuosa vereda. Iniciava-se junto ao Matadouro, num cruzamento que ali havia, designado, a partir da década de cinquenta, por Cilindro. A razão deste topónimo teve a sua origem por altura da construção do troço de estrada entre o Porto da Fajã e a Ribeira Grande. Quando os empreiteiros, vindos da Terceira, chegaram à Fajã Grande, trouxeram apenas o material de apoio que a ilha não dispunha. O restante foi construído e fabricado por eles próprios, já depois de ali se terem fixado, dando início às obras. Foi o caso dos cilindros com que haviam de calcar o cascalho e a bagacina que formavam o liso tapete da nova estrada. O primeiro cilindro de pedra e cimento foi construído perto do Matadouro, situado entre a Via d’Água e o Porto, junto à Baía de Água e em frente à canada que dava para casa do José de Lima. Porém, este primeiro cilindro construído na Fajã Grande era enorme e pesadíssimo. O seu tamanho exagerado e o seu peso excessivo criaram um gravíssimo problema aos construtores: é que o cilindro de tão pesado que era, nunca permitiu às limitadas forças motoras existentes na freguesia – uma camioneta e meia dúzia de juntas de bois atreladas umas atrás das outras – que conseguissem movê-lo, um centímetro que fosse, do próprio lugar onde tinha sido construído. Perante tal inultrapassável imbróglio, foi arquitetado um novo cilindro, mais pequeno e mais leve, enquanto aquele mamarracho ficou anos e anos ali parado, com a interessantíssima vantagem de apenas ter dado nome àquele local, que passou a chamar-se o lugar do Cilindro ou simplesmente o Cilindro. Aí construiu-se, mais tarde, a quando da abertura da estrada, um pequeno largo com um cruzamento, no qual se iniciava, precisamente, a vereda ou canada que dava para as terras das Furnas, do Areal e do Canto do Areal, assim como para toda a orla marítima, desde da Baía de Água até ao Rolo do Canto do Areal. Era uma vereda muito estreita e sinuosa, com o piso de pedregulhos soltos, interdita a carros e corsões, traçada na direção norte/sul, ladeando na sua totalidade, a oeste pelas pedras negas do baixio e a leste, delineada pelas paredes das courelas, belgas e terrenos de milho e de batata-doce que por ali existiam. No Respingadouro a vereda alargava-se e confrontava-se a oeste com o Campo de Futebol das Furnas a que, em arte, também dava acesso. Seguia-se, em frente à entrada principal do Campo um pequeno largo, transformado por vezes em descansadouro. Depois a vereda formava uma pequena curva, bifurcava-se com o Caminho das Furnas e da Rua Nova, passando, de seguida ao lado de uma lixeira ali existente, no enfiamento do Caneiro das Furnas e da Furna das Mexideiras. A partir daí, a vereda alargava-se com um pisoo mais liso, seguindo quase em linha reta até ao Canto do Areal, dando acesso a outras canadas e caminhos, nomeadamente à Rua das Courelas que se iniciava precisamente no Caminho do Areal.
Esta vereda era muito frequentada não apenas por quantos tinham propriedades a que a mesma dava acesso, mas também aos pescadores e aos apanhadores de lapas que procuravam os pesqueiros desde da Baía de Água ao Canto do Areal, nomeadamente do Rolinho das Ovelhas, Respingadouro, Furnas, Retorta, Redondo, Coalheira, Poça das Salemas e Canto do Areal. Aos domingos e sempre que havia futebol, esta vereda era uma das vias de acesso ao Campo, para onde o povo se deslocava para assistir aos jogos de futebol entre o Atlético e a Rádio Naval, das Lajes, da Académica da Fazenda e do Sporting e da União, ambos de Santa Cruz.