PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
DOCILIDADE E NOBREZA DE CARÁCTER
Natural duma freguesia originada de uma pequena localidade povoada desde o longínquo ano de 1470, nos primórdios do povoamento da ilha Terceira, numa encosta sobranceira ao mar e construída sobre a lava basáltica expelida por sucessivas erupções vulcânicas, foi aí também que concluiu o ensino primário, após o qual demandou a ilha do Arcanjo, em 1958, frequentando o Seminário de Santo Cristo. Dois anos depois regressou à Terceira, realizando a sua formação académica no Seminário de Angra, abandonando os estudos já em pleno curso de Teologia. No Seminário revelou-se sempre um jovem duma docilidade extraordinária, de uma nobreza de carácter excepcional, pautando a sua vida estudantil por uma simplicidade de costumes, uma grandiosidade de boas maneiras, estampadas no seu ar jovial, simples, terno, meigo e amigo de todos. Evitava envolver-se em confusões mas ajudava a sanar conflitos, rodeava-se de silêncios mas aconselhava com lealdade, abrandava tempestades e impunha-se na defesa dos mais fracos. Aluno, estudioso, trabalhador, cumpridor dos seus deveres, fiel às suas obrigações, respeitando colegas e professores, impôs-se como verdadeiro arquétipo de “bom seminarista” e exemplo para os outros. Todas estas e muitas outras qualidades fizeram com que fosse indigitado para o cargo de monitor.
Exerceu a sua actividade profissional na área das telecomunicações, fixando-se em São Miguel, deslocando-se, frequentemente em trabalho, a todas as outras ilhas. Trabalhou nos Correios, Telégrafos, Telecomunicações e Televisão, revelando-se sempre um profissional honesto, competente, digno e trabalhador. Agora reformado, vive na freguesia de São José, na cidade de Ponta Delgada, na ilha de São Miguel.
Por tudo isso chegou ao “Encontro” transportando aquele silêncio eloquente e comunicativo com que sempre nos brindou. Espicaçado por abraços e saudações, sacudido por frémitos de alegria e saudade, começou a aspergir sorrisos de uma enorme bondade, desvelos de uma grandeza de alma, manifestações de uma dignidade de vida e duma honestidade de costumes. Aqui e além, numa rua da cidade ou num banco da Praça Velha, logo no primeiro dia, na solidez perdurada das suas cãs, como que se assenhoreou do silêncio para acirrar o diálogo. Envolto num manto de sobriedade, impondo-se numa silhueta alta, imponente e elegante, afirmava-se, permanentemente, na doce confrontação da sua hombridade. Conversava, recordava, sorria e até adivinhou que o Encontro havia de ser o sublime extremar de muitas vivenças, de muitos sentimentos e o solidificar de muita amizade. Por isso participou em tudo, envolveu-se em todas as actividades, imiscuiu-se em todos os eventos, jogou futebol, passeou pelas ruas de Angra, cantou e ajudou-nos a recordar a memória dos mortos. Por tudo isso, foi mais um dos “Senhores” do Encontro.