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ERA-NÃO ERA

Terça-feira, 04.02.14

Era-Não-Era, no tempo das eras

Andava na serra,

Lavrando a terra

Com arado de carne

E bois de madeira.

Vieram-lhe dizer que o pai estava a morrer

E a mãe a nascer.

Foi tão grande o seu prazer.

Que prendeu os bois a uma moita

E pôs o arado a comer.

Vai por aí abaixo,

Encontra um ninho de marracho

- Onde hei-de pôr os ovinhos?

- Oh… debaixo da burrinha!

Saíram-lhe dois tentilhões;

E onde haviam de poisar?

Numa árvore que dava avelãs.

Começou a atirar-lhe pedras

E a caírem cebolas albarrans.

Foi vendê-las à vila e fez um dinheirão.

À volta dá com um meloal

E entra a apanhar um melão.

Vem de lá o dono e diz:

- Que fazes em faval alheio?

Atirou-lhe um melão, acertou-lhe com um torrão,

E fez-lhe sangue tão vermelho!

 

Seguindo o seu caminho,

Logo a seguir viu um passarinho

A sair do seu ninho.

Chegou às suas colmeias

Não pode contar os cortiços;

Mas foi contar as abelhas… e faltava-lhe uma!

N'isto ouviu resmalhar em uma moita,

E julgando que fosse a abelha,

Atirou-lhe com o machado.

Foi lá busca-lo, mas não o encontrou.

Atiçou fogo a uma moita,

Queimou o machado e lá apareceu o cabo.

 

Voltou para traz e foi falar ao professor,

Que lhe fizesse um machado.

Vai de lá o mestre ferreiro apresentou-lhe um anzol.

Que se havia ele lembrar?

Lembrou-se de ir á pesca.

Quando sente morder no anzol.

Puxa a linha e trouxe…

Um burro pelas orelhas, sem as ter!

Deixou o burro a comer,

E foi ás colmeias outra vez.

Estava a moita feita em mel.

Tirou dois piolhos da cabeça,

Das barrigas fez dois sacos,

e com elas carregou o burro,

Depois de as encher de mel.

Mas a carga era muito pesada,

E o burro ficou todo ferido.

O Era-Não-Era pôs-lhe favas em cima,

Cuidando que o burro morria

Pôs-lhe as favas mesmo cruas,

Por ser assim mais depressa,

E lá o deixou no campo a pastar.

 

Passado um ano voltou ao campo,

E viu um grande faval nascido em cima do burro.

Tratou logo de ir buscar uma foice para ceifar as suas favas;

Mas quando ia começar o trabalho,

Viu lá dentro um porco-espinho.

Jogou-lhe com a foice, e o cabo entrou-lhe pelo rabo,

Com o rabo o porco ceifava, com as patas debulhava…

E d'esta maneira o Era-Não-Era

Recolheu uma grande colheita.

 

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publicado por picodavigia2 às 14:59





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