PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
ESPÍRITO SANTO DA CAVEIRA
“Viva o Senhor Espírito Santo da Caveira que não tem pau nem bandeira.”
Estranho adágio ou dito popular, este, apesar de muito frequente na Fajã Grande, nos anos cinquenta e que era utilizado em momentos de desânimo, em que algo não estava a correr bem, mas sem que isso fosse prejudicial ou tivesse consequências malévolas. Usava-se, pois, este adágio, como uma espécie de dito depreciativo ou de indignação benevolente, de desconforto compassivo, de incapacidade tolerante, de minimização plausível. Assim a ideia de uma irmandade de Espírito Santo que não tivesse as insígnias próprias, nem sequer as mais simples, as mais baratas e as mais fáceis de adquirir, aquelas que, na Fajã Grande, até as crianças possuíam para colocar nos pátios de suas casas, nos dias de festa ou quando a coroa passava por ali, como eram a bandeira e o pau onde ela era dependurada, parece ligar-se perfeitamente este sentimento de desânimo complacente, de arrelia compensatória, de insucesso benfazejo, de aniquilação amiga, de algo que, apesar de conjugado com uma grande dose de insucesso, quase nada prejudicava. O estranho deste dito está em saber porque se referia à irmandade da freguesia da Caveira, dado que nas Flores provavelmente houvesse outras irmandades mais pobres porque de menores dimensões: Cuada e Ponta, ambas ali bem perto da Fajã, e ainda a Ponta Ruiva e a Costa do Lajedo, entre outras. Em primeiro lugar, a Caveira poderá aparecer aqui pura e simplesmente por uma razão literária, pois era o único lugar, de entre os mais pequenos, que rimava com bandeira, dando assim mais força rítmica e poética ao adágio, assim como mais facilidade em decorá-lo. Por outro lado e na sua qualidade de freguesia, a Caveira era a freguesia mais pequena da ilha, não tanto em população, que o Mosteiro ainda era menor, mas em território e além disso tinha um nome muito estranho, esquisito, a fazer lembrar medos, receios, lendas e enigmas. Por tudo isso um pouco, talvez aquela freguesia esteja mais facilmente ligada à ideia acima referida e que o provérbio consubstancia.