PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
EXCELÊNCIA MUSICAL
Vindo das Feteiras, S. Miguel foi um dos pioneiros da criação do Seminário Menor de Santo Cristo, em Ponta Delgada, constituindo a primeira “tranche” formada, naquele antigo colégio jesuíta, nos dois primeiros anos, fora de Angra, sob a orientação do Reitor, Dr José de Oliveira Lopes. Corria o longínquo ano de 1956. Assim só o encontrei, quatro anos mais tarde, no Seminário de Angra, quando ele iniciava o seu percurso nos “Médios”. Apesar da proibição regulamentar de “comunicar” entre as prefeituras, muitas oportunidades tive de conviver com ele apreciando, de forma muito particular, a sua abrangente e comunicativa alegria de viver, espelho do seu “carácter” de bondade e dos dons musicais que lhe enchiam a alma e extravasavam a cada momento. Naturalmente foi esta “garra musical”, já no Seminário armazenada, que se fortaleceu e solidificou, graças à formação que ali obteve sob orientação do maestro Edmundo Machado de Oliveira e que explodiu mais tarde, sobretudo durante os anos em que dirigiu musicalmente, o orfeão de que também foi co-fundador e a que foi dado o nome do seu antigo mestre. Foi, durante 18 anos, regente do Orfeão Edmundo Machado de Oliveira e nessa qualidade, para além de muitos concertos em Portugal, fez digressões pelos Estados Unidos, Canadá, França e Brasil, onde participou no concerto inaugural das cerimónias dos 500 anos do descobrimento e, também, na inauguração do Centro Cultural de Belém, em Lisboa. Anos mais tarde fixou-se em Toronto, no Canadá, onde reside actualmente, criando, em 2005 o orfeão Stella-Maris de que é o seu actual maestro.
Trouxe para o Encontro toda essa força, essa excelência e essa competência musicais, provocando-nos, musicalmente, em cada hora e em cada momento, “forçando-nos” a recordar, repetir e executar aquilo que de mais belo e melhor fizemos durante os nossos anos no Seminário: cantar. Cantámos, por sua iniciativa e orientação, no final do jantar no refeitório, no primeiro dia, nos prolongados ensaios, no sarau, na missa de homenagem aos falecidos, enfim, por aqui e por ali. Juntamente com outro excelente maestro permitiu-nos recordar inúmeras peças musicais, de obras de música clássica, gregoriana, religiosa e profana, cantadas outrora. Em todas as execuções musicais misturava ao seu espírito, jocoso, alegre, solidário, comunicativo e amigo, a excelência da sua sabedoria, a competência da sua execução e o dinamismo da sua batuta a que se juntava uma fogosidade, um arrebatamento e uma sublimidade inexauríveis, fazendo dele mais um dos “Senhores” do nosso imemorável Encontro.