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FAJÃ GRANDE

Terça-feira, 09.01.18

(TEXTO RETIRADO DO BLOGUE "VIAJAR. PORQUE SIM"

Fica na costa ocidental da ilha aquela que para mim é a localidade mais bonita das Flores: a Fajã Grande. Foi aqui que ficámos alojados, e foi mesmo a melhor escolha, tanto pela qualidade do alojamento em si como pelo cenário que a envolve. É um lugar único! De um lado uma enorme falésia coberta de verde, do outro o mar bravio que se desfaz em espuma nas rochas negras e baixas que contornam todo aquele pequeno e muito recortado pedaço de costa.

Aqui, junto às piscinas naturais que se formam entre as rochas – e que uma plataforma irregular cimentada transforma em zona balnear quando o tempo bom convida – é o ponto mais ocidental da Europa onde podemos chegar a pé. E daqui vê-se o outro ponto mais ocidental do continente, o geográfico: o ilhéu Monchique, um simples rochedo basáltico com uns 30 metros de altura e a forma de uma vela latina, isolado no oceano, batido pelo vento e pelas ondas.
Apesar do nome, a Fajã Grande é uma aldeia pacata com pouco mais do que uma rua principal, meia dúzia de outras pequenas ruelas e uma estrada marginal junto à costa. Subimos por uns degraus de pedra meio toscos até ao Miradouro da Cruz.
Avista lá de cima é soberba: os telhados laranja alternam com os rectângulos verdes dos campos de pasto e cultivo, delimitados por muros de pedra. No meio das casas baixas destaca-se a Igreja de São José, branca e debruada a cinza-escuro, e o mar azul manchado de espuma branca completa a paisagem.
Na rua cruzamo-nos com mais estrangeiros do que portugueses, mas o ambiente é tranquilo. Ali não há enchentes de pessoas nem confusão. As casas são de traça simples, na sua maioria brancas, algumas ainda de pedra, outras pintadas de cores várias.
Ficam-me os olhos e o coração numa delas que parece desabitada e já tem alguns vestígios de degradação. É maior do que as outras e tem um estilo rebuscado, com uma espécie de torre e varandas de ferro forjado ou pedra. Não me importava nada se fosse minha, e é uma pena estar ali assim, com aquele aspecto de abandono e sem ninguém que a recupere. Apesar do isolamento da ilha e da típica instabilidade do clima nos Açores, acho que conseguiria viver e ser feliz aqui.
A Igreja de São José está aberta e podemos entrar à vontade. É pequena e simples, mas o seu interior está bem cuidado – madeiras envernizadas, retábulos dourados, arranjos de flores nos altares. O baptistério é muito bonito e fora do comum, com mosaicos antigos, móveis de madeira, a pia de mármore branco a destacar-se ao centro, iluminada pela luz coada através do cortinado leve que cobre a janela.
Merendário é o nome que aqui dão aos parques de merendas, e na Fajã Grande há dois. Um deles fica em frente às piscinas naturais, junto ao parque de campismo, e está bem apetrechado com grelhadores e lava-louças. Infelizmente, o tempo e o mar não convidavam a mergulhos nem piqueniques. Mas convidavam a matar a fome, e ali mesmo ao lado está a Barraca q’Abana, onde fazem umas bifanas de comer e chorar por mais – até eu, que evito comer carne, tive de me render a elas, devidamente complementadas depois com uma bela e absolutamente deliciosa fatia de bolo de coco (sou gulosa, confesso…).
E já que estou a falar de comida, por estes lados come-se realmente bem – ou não estivéssemos nós em Portugal. Na rua principal, o Jonah’s foi outro dos restaurantes onde comemos. É um restaurante pequeno, por isso convém passar por lá mais cedo para reservar e, já agora, para saber quais os pratos do dia e criar apetite. A comida é caseira, simples e saborosa, e a oferta depende do que encontram à venda, pois usam sobretudo produtos frescos. O meu conselho? Apostem no polvo. Foi o que eu escolhi, e estava uma maravilha!
Para quem vai à Fajã Grande, é impossível passar despercebida: a cascata do Poço do Bacalhau vê-se ao longe, caindo pela falésia imponente do alto dos seus 90 metros. E como é bonita! O acesso faz-se por um caminho de pedra bem cuidado e protegido por uma vedação de troncos de madeira, passando por alguns moinhos de água em ruínas, até chegarmos à pequena lagoa natural formada pela água que escorre da parede rochosa. É possível tomar banho, mas o dia não estava suficientemente quente (pelo menos não para mim, que sou friorenta). Contentámo-nos em ficar por ali a apreciar o local, a tirar fotografias e a saltar sobre as pedras do ribeiro, com o ruído da água como fundo e o verde da vegetação endémica a rodear-nos. Aqui e acolá já se viam alguns tufos de hortênsias brancas ou azuis, apesar de ainda não ser a época alta da sua floração.
É no Poço do Bacalhau que termina (ou começa, para aqueles que gostam de “trepar”) um dos vários trilhos pedestres da ilha das Flores. Liga o planalto das lagoas à Fajã Grande, mas não é um trilho fácil, sobretudo quando o tempo está húmido.

 

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publicado por picodavigia2 às 00:05





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