PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
GUSTAVO FRAGA
De acordo com o noticiado pelo Forum Ilha das Flores e pela Câmara Municipal das Lajes, a edilidade do mais ocidental município açoriano homenageou, na pretérita sexta-feira, 02 de Dezembro, o Professor Gustavo de Fraga, através da colocação de uma Placa de homenagem na casa onde nasceu, atribuindo também o seu nome a uma rua da freguesia da Fajãzinha, de onde o homenageado era natural. A cerimónia de homenagem realizou-se junto ao emblemático largo do Rossio daquela freguesa.
Filho de Eduardo Augusto de Fraga e de Maria Valadão de Fraga, o ilustre homenageado nasceu na freguesia da Fajãzinha, ilha das Flores, em 1 de Novembro de 1922, mas foi na freguesia dos Cedros da mesma ilha que passou uma pequena parte da sua infância.
O pai, professor do ensino primário, lecionou em diversas freguesias da ilha das Flores, designadamente nos Cedros e na Fajãzinha. Mais tarde foi transferido para a ilha de São Miguel, lecionando em Vila Franca do Campo.
O avô paterno, José Francisco de Fraga, de origem continental fez os seus estudos no Seminário de Angra, onde não chegou a completar o curso de Teologia. Foi secretário do Governador Geral de Angola e exerceu também as funções de professor de instrução primária na ilha das Flores. Casou com Maria Amélia Nóia Silveira, de origem açoriana e inglesa, natural do Eire, Estados Unidos da América. Conta-se que José terá ficado encantado ao vê-la quando ela passava nas Flores em viagem à vela de Inglaterra para o seu país. Por sua vez o avô materno, Manuel de Freitas Valadão, casado com Maria Avelar Valadão, de origem florentina, foi emigrante nos Estados Unidos da América e como muitos outros emigrantes percorreu a pé o caminho entre o Texas e a Califórnia à procura de trabalho.
Pelo facto dos pais terem fixado residência em Vila Franca do Campo quando tinha cerca de dois anos, Gustavo de Fraga completou instrução primária naquela vila e frequentou o Externato Vilafranquense. Aos 16 anos de idade concluiu o ensino secundário no Liceu Antero de Quental, em Ponta Delgada, matriculando-se, a seguir, na Escola do Magistério, completando o curso em 1942.
Como professor oficial do ensino primário, lecionou no distrito de Ponta Delgada, mas apesar de viver fora das Flores, manteve-se ligado à sua ilha, à qual o pai regressou depois de enviuvar, e onde veio a falecer em 1960.
Sempre na ânsia de enriquecer a sua instrução e cultura, nos anos quarenta, partiu para Lisboa onde, para além de ter sido redator do jornal Diário da Manhã e funcionário da Emissora Nacional, frequentou a Faculdade de Letras, como estudante trabalhador e pnde concluiu o curso de Ciências Histórico-Filosóficas. Mais tarde frequentou a Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, tendo-se licenciado, com distinção, dissertando Sobre o Objeto da Metafísica de Francisco Suarez.
Em 1954 emigrou para a Alemanha, sendo nomeado Leitor de Português na Universidade de Bona até 1957. Aí frequentou cursos e seminários de filosofia, alguns deles orientados pelos professores Johannes Thyssen, Gerhard Funke, Hans Heimsoeth e Ludwig Landgrebe, que fora assistente de Husserl.
No ano letivo de 1957/58, fixou-se em Paris, com bolsa concedida pelo Instituto Português de Alta Cultura. Na Sorbonne, participou em cursos de Ferdinand Alquié e de Jean Wahl, juntamente com quem se iniciou nos estudos hegelianos.
No ano seguinte voltou à Alemanha onde foi bolseiro na Universidade de Friburgo, nela frequentando seminários de Hans Reiner e de Max Muller.
Em 1960, concluiu, na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, o Curso de Ciências Pedagógicas, onde exerceu o cargo de assistente de Ciências Filosóficas. Em Julho de 1967 prestou provas de doutoramento em Filosofia, com a dissertação De Husserl a Heidegger e Elementos para uma Problemática da Fenomenologia. Em 1 de Maio de 1970 passou a professor auxiliar e a seguir fez concurso para professor extraordinário de Ciências Históricas, Geográficas e Filosóficas, sendo aprovado com mérito absoluto em 8 de Maio de 1973. A sua nomeação para o lugar verificou-se em 16 de Junho de 1977.
Entretanto, face à recente criação do Instituto Universitário dos Açores, foi nele colocado, a seu pedido, em comissão de serviço, a partir de 7 de Fevereiro de 1976. Aí viria a ser nomeado, por despacho de 20 de Fevereiro de 1979, vice-reitor e vogal da Comissão Instaladora. Exerceu ainda o lugar de diretor do Departamento de Formação de Professores.
Em 28 de Dezembro de 1981 foi empossado no cargo de professor catedrático da Universidade de Coimbra, mantendo-se, em comissão de serviço na Universidade dos Açores. Nela, para além de ter sido diretor do Centro de Estudos Filosóficos, foi eleito, sucessivas vezes, presidente do Conselho Científico.
Na sua longa atividade de docente lecionou diversas disciplinas ou cursos, nomeadamente: Ontologia, Antropologia Filosófica, História da Filosofia, Axiologia, Ética, Teoria da História, Introdução à Filosofia e Teoria do Conhecimento, Problemas do Mundo de Hoje, Problemas da Sociologia da História, As Grandes Revoluções Filosóficas, História do Pensamento, História Cultural e das Mentalidades.
Os seus méritos levaram-no a receber várias menções honrosas e quatro bolsas de estudo: do Instituto Português de Alta Cultura, para investigar em Lovaina e em Paris. Aposentou-se em 27 de Abril de 1990, mantendo a sua residência na cidade de Ponta Delgada.
Para além da atividade docente a que dedicou a maior parte da sua vida, proferiu palestras, participou em muitíssimos colóquios, seminários e conferências. Gustavo de Fraga foi um dos fundadores da revista Filosofia, membro fundador do Centro de Estudos Fenomenológicos, anexo à Universidade de Coimbra, colaborador da VELBC e colaborou em diversas revistas e jornais, sobretudo com trabalhos e artigos da sua especialidade.
Das suas obras publicadas destacam-se: Horas de Ronda, Sobre Heidegger, De Husserl a Heidegger, A Fenomenologia e o Espírito do Hegelianismo, Fidelidade e Alienação, Rogai Por Nós Pecadores e ainda Balada para Joana Margarida, livro de poemas dedicado à sua neta.”.
Gustavo Fraga, agora homenageado na ilha que o viu nascer, faleceu ocorreu na cidade de Ponta Delgada, onde residia com a esposa, em 15 de Novembro de 2003.
NB – Dados retirados da Wikipédia, Universidade dos Açores, Câmara Municipal das Lajes das Flores e Forum Ilha das Flores