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HISTORIAL DA MAIS OCIDENTAL FREGUESIA AÇORIANA

Quarta-feira, 20.04.16

A Fajã Grande, ocupando uma área de aproximadamente 12,55 quilómetros quadrados, foi sempre uma das freguesias mais povoadas do concelho de Lajes das Flores e de toda a ilha. Localizada na costa oeste, confronta com as freguesias de Ponta Delgada das Flores e da Fajãzinha e representa o lugar mais ocidental dos Açores, de Portugal e de toda a Europa. Um pouco afastado da sua orla costeira, encontra-se o ilhéu de Monchique, o último sinal físico que separa o Velho do Novo Mundo, assim descrito pelo Padre José António Camões: "Em distancia de uma legoa, pouco mais ou menos, a noroeste da ilha, está um alto ilheo de pedra chamado Monxique, que sendo bem alto (nada menos de vinte braças de altura) há por vêzes mar tão bravo naquella Costa, que o cobre todo, saltando-lhe as ondas por cima".

Administrativamente, só na segunda metade do século XIX, a Fajã Grande obteve a sua autonomia política e religiosa. A freguesia de Nossa Senhora do Remédios das Fajãs, a que pertencia o lugar de Fajã Grande, havia sido instituída em 1676, englobando os lugares da Ponta, Fajã Grande, Caldeira e Mosteiro. Nesse ano, haviam sido desanexados os lugares da Ponta da Fajã, que até então pertencia à freguesia de Ponta Delgada, e do Mosteiro, integrando a freguesia das Lajes. Duzentos anos mais tarde, por provisão do Bispo de Angra, Frei Estevão, datada de 1861, foi instituida a Paróquia de São José de Fajã Grande em conjunto com as povoações da Ponta e Cuada. O Padre Camões, relativamente a esta região, afirma o seguinte: "Continua baixio até uma pequena enseada a que chamam a baixa d'agoa. Continua baixio, baixio até chegar ao porto da Fajã Grande, que tem no meio um grande morro chamado o Calhau da Barra. Para dentro do dicto Calhau fica um grande poço de mar chamado o Poção, que dá refugio aos barcos que entrão com mar bravo".

Gaspar Frutuoso, por outro lado, oferece-nos uma descrição mais viva da região, na sua obra Saudades da Terra: "Dali a um quarto de légua está uma Fajã, chamada Grande, que dá pão e pastel, em terra rasa, com algumas engradas onde entram caravelas de até cinquenta moios de pão a tomar o pastel que nela se faz, onde também há marisco e pescado de toda a sorte, e no cabo dela está um areal, de meia légua de comprido, em que sempre, anda o mar muito bravo; e dali por diante, a outra meia légua, é tudo rocha talhada, onde se apanha muita urzela, e de muita penedia por baixo, em que se cria infinidade de marisco e grandes caranguejos e desta mesma maneira corre a rocha um tiro de bombarda até uma ponta, que sai ao mar um tiro de arcabuz, com um baixo de pedra, que tem lapas e búzios; e, logo adiante da ponta, se faz uma baía, onde com ventos levantes ancoram navios de toda a sorte e também naus da Índia. No meio deste ancoradouro cai da rocha no mar, a pique, uma grande ribeira".

Este texto permite concluir-se que, na época, a Fajã Grande era centro de grandes transações comerciais, chegando mesmo as caravelas da Índia a encontrar aqui um precioso desembarcadouro.

Por outro lado, o autor faz ainda uma clara referência á riqueza e variedade do pescado da região, ainda hoje preservado. Apesar de, atualmente, não registar tão grande azáfama a Fajã Grande continua a encantar quem a visita, pela amenidade do seu clima, pela transparência das suas águas ou pelas suas piscinas naturais, enfim, ela assume-se hoje como uma verdadeira estância de veraneio para todos os florentinos.

De todos os lugares que compõem esta pitoresca freguesia, dois sobressaem pelas suas paisagens naturais: a Ponta e a Cuada. A Ponta é um lugar quase mítico, imaginária e de sonho, num mundo marcado pela solidão e pela falta de valores. Desde que serviu de fronteira entre as freguesias de Nossa Senhora do Remédios de Fajãzinha e de São Pedro da Ponta Delgada, o destino desta região ficou para sempre traçado. Atualmente, com as suas cascatas de águas e escorrer pelas escarpas abaixo, a Ponta da Fajã Grande é um idílico lugar onde vivem menos de 20 pessoas. Com tradições profundamente rurais, aqui ainda se ouve o cantar dos pássaros, o murmurar das águas e o marulhar do mar, por vezes intempestivo. Por sua vez Cuada, palavra que deriva de saracotear, ou seja, «andar de um lugar para o outro», mas que Pedro da Silveira afirmava vir de cu, por ficar na parte de trás da freguesia, foi uma povoação que, desde cedo, sentiu o fenómeno da desertificação. Este airoso terraço ou planalto entre a Fajã Grande e a Fajãzinha, encontra-se assim associado, na mais pura tradição florentina do aldear, aos contrastes e dissabores que, com o tempo, foram surgindo na Fajã e que levaram algumas famílias a abandonarem a sua terra natal.

 

"A Fajã é uma vila,

A Quada é um outeiro

P'ra onde as aves do campo

Vão fazer o seu linheiro.

 

As tecedeiras da Quada

São todas muito apuradas,

Tecem colchas cobertores,

Cobertas e almofadas,”

 

Hoje, quase todo o povoado da Cuada foi recuperado para fins turísticos o que constitui sem dúvida um exemplo de Turismo Rural de sucesso. "Aldeia da Quada", é um sítio convidativo à Paz, e ao bucolismo que a ilha inspira. Um contacto imprescindível com a Natureza que se recomenda.

Porque as pessoas são parte integrante da História de cada região, Fajã Grande orgulha-se de ter sido o berço de algumas personalidades que, no seu tempo e à sua maneira, contribuíram para o seu engrandecimento. De entre as várias individualidades florentinas, destacam-se o Padre José Luís de Fraga, pelos seus dons de orador, escritor e músico; e Pedro da Silveira, historiador e poeta, com vários trabalhos publicados.

 

NB – Dados retirados da net: Sites da C.M. das Lajes e J.F. da Fajã Grande.

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publicado por picodavigia2 às 00:05





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