PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
IDA AO POÇO EM SÃO CAETANO
São Caetano, assim como a maioria das freguesias da ilha do Pico, somente a partir da década de 80, foi provida pela rede de abastecimento público de água. Os próprios tanques e cisternas que ainda hoje proliferam pela freguesia, junto às habitações, apesar de não utilizados actualmente, na sua maioria, são construções relativamente recentes. Daí que, em tempos mais remotos, a água fosse um elemento, raro, precioso e de difícil obtenção. O Pico é uma ilha vulcânica, seca e, por conseguinte, em São Caetano a água era escassa. Além disso, as ribeiras apenas se enchiam por altura de chuvas torrenciais e as nascentes eram raras, distantes das habitações e com caudais insuficientes para satisfazer as necessidades da população. Por outro lado, tratando-se de uma freguesia pobre, em tempos mais recuados, poucos tanques de recolha da água foram construídos na localidade.
Perante a escassez de água os habitantes de São Caetano adoptaram uma solução que lhes permitia aceder à água e adquiri-la recorrendo aos chamados “Poços de Maré”. Apesar de salobra, insípida e pouco bebível, foi esta água que desde os primórdios do povoamento até ao início do século passado abasteceu a quase totalidade da população desta hospitaleira freguesia, embora, por vezes o povo recorresse ao lugar das Fontes, no Caminho do Mato, onde ia buscar a água, sobretudo, para beber, para fazer o café ou o chá.
Mas estes poços, construídos em pedra vulcânica, eram edificados perto da costa, muito distante das habitações e, além disso, enchiam-se somente por altura da maré cheia, através de infiltrações oriundas do mar. Assim, o ir buscar água ao poço, apesar de se tornar uma rotina diária para os nossos antepassados, constituía uma tarefa árdua, difícil e muito cansativa, pois exigia que as mulheres percorressem veredas íngremes e escarpas pedregosas, transportando a água, em potes de madeira levados à cabeça. Eram também as mulheres que pelos mesmos trilhos, carregavam, em trouxas, a roupa antes e depois de a lavarem nas pias que existiam junto àqueles poços. Por vezes, sobretudo, enquanto esperavam os maridos que estavam no mar, as mulheres depois de lavar a roupa, punham-na a secar sobre as pedras da costa, evitando, assim, o peso de a transportar molhada, de regresso a casa.
Assim, a água recolhida e transportada com tanto esforço e sacrifício, apesar de salobra, era considerada um bem precioso que urgia poupar, por isso, geralmente, era depositada e guardada em talhões de barro a fim de se conservar mais fresca, sendo o seu uso racionado.