PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
ILHA DAS FLORES
A Ilha das Flores situa-se no Grupo Ocidental do arquipélago dos Açores, sendo a maior das ilhas que compõem aquele grupo. Ocupa uma área de 141,7 km², na sua maior parte constituída por terreno montanhoso, caracterizado por grandes ravinas e gigantescas falésias. O ponto mais alto da ilha é o Morro Alto, com 914 m de altitude. A população residente, actualmente, é de cerca de 3.500 habitantes, repartindo-se por onze freguesias, agrupadas em dois concelhos: Santa Cruz e Lajes das Flores. A sua ponta mais oeste, na ponta da Coalheira, é o ponto mais ocidental da Europa. A ilha das Flores é considerada como uma das mais belas do arquipélago, cobrindo-se de milhares de hortênsias de cor azul, que dividem os campos ao longo das estradas, nas margens das ribeiras e lagoas.
As Flores e Corvo foram encontradas em 1452, quando do retorno da viagem de exploração de Diogo de Teive e seu filho, João de Teive, à Terra Nova. No início do ano seguinte, D, Afonso V fez a doação das duas ilhas ao seu tio, Afonso I, Duque de Bragança. No documento de doação não é mencionada a ilha das Flores, uma vez que, à época, não tinha um nome. Entretanto era esta a ilha doada, uma vez que a do Corvo era, à época, considerada apenas um ilhéu anexo à primeira. As ilhas seriam posteriormente doadas ao Infante D. Henrique, Mestre da Ordem de Cristo, que, em seu testamento, as nomeia como ilha de São Tomás e ilha de Santa Iria. Com a morte deste passam para o Infante D. Fernando, Duque de Viseu.
A actual toponímia "Flores", em uso desde em 1474 ou 1475, deve-se à abundância de cubres que recobriam a costa da ilha, cujas sementes possivelmente foram trazidas por aves migratórias desde a península da Flórida, na América do Norte.
O primeiro capitão do donatário destas ilhas foi Diogo de Teive, passando a capitania a seu filho, João de Teive. Este, em 1475, cedeu-a a Fernão Teles de Meneses. Com a morte acidental de Teles de Meneses, a viúva deste, D. Maria Vilhena, que as administrava em nome do seu jovem filho, Rui Teles, negociou estes direitos com Willem van der Haegen. Desse modo, este nobre flamengo que por volta de 1470 havia chegado com avultada comitiva à ilha do Faial, de onde passara à ilha Terceira, fixou-se nas Flores por volta de 1480, cuida-se que junto à foz da Ribeira de Santa Cruz, cuja povoação começou a se formar, iniciando o cultivo do pastel, planta tintureira em cuja cultura era experimentado. Aí permaneceu durante cerca de dez anos, findo os quais resolveu deixar a ilha, motivado pelo isolamento e pela dificuldade de comunicações da mesma, indo fixar-se na ilha de São Jorge.
Mais tarde, el-rei D. Manuel I fez a doação da capitania-donataria a João da Fonseca, que retoma o povoamento com elementos vindos da Terceira e da Madeira, aos quais se juntou nova leva de indivíduos de várias regiões de Portugal, com predomínio dos do norte do país. Este povoamento distribuiu-se ao longo da costa da ilha, com cada família ou grupos afins ocupando a terra que lhes coubera, com base na cultura de trigo, cevada, milho, legumes e na exploração da urzela e do pastel. Desse modo, ainda no século XVI recebem carta de foral as povoações de Lajes das Flores e de Santa Cruz das Flores, assim elevadas a vilas. Data de 6 de agosto de 1528, a confirmação régia da posse da Capitania a Pedro da Fonseca, filho de João da Fonseca. Com o falecimento de Pedro da Fonseca, e do seu filho mais velho, João de Sousa, D. João III faz a doação da capitania-donataria da ilha a Gonçalo de Sousa.
Nos séculos seguintes, um grupo reduzido de habitantes manter-se-ia isolado em várias partes da ilha, recebendo raras visitas das autoridades régias, e de embarcações de comércio das ilhas do Faial e Terceira em busca de azeite de cachalote, mel, madeira de cedro, manteiga, limões e laranjas, carnes fumadas e, por vezes, louça, deixando, em troca, panos de lã e linho e outros artigos manufacturados e outras embarcações que ali faziam aguada e adquiriam víveres.