PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
ILHA DAS FLORES
A quarta ilha mais pequena e a mais ocidental dos Açores, Flores, deve o seu nome, plenamente justificado, à variedade de flores e plantas lá existentes – muitas sementes foram trazidas por pássaros migratórios, vindos de lugares distantes como a Florida – que fazem que esta ilha seja uma das mais coloridas e bonitas de todo o arquipélago. Geograficamente a ilha das Flores está situada na placa continental americana a cerca de 24 km da ilha do Corvo e por volta de 250 a 350 km (dependendo da localização) do grupo central e aproximadamente de 600 km da ilha mais a leste, Santa Maria. A sua localização tão mais a oeste no Atlântico provoca diferenças climáticas em relação às outras ilhas, sendo as suas temperaturas mais moderadas ao longo de todo o ano. Esta ilha também tem o dobro da pluviosidade e por isso é a mais ventosa. O lado bom de tanta chuva é que é também a ilha mais verde de todo o arquipélago e oferece, muitas vezes, magníficos arco-íris sobre toda a ilha.
Cobrindo uma área de cerca 143 Km quadrados (aproximadamente 17 Km de comprimento e 12 km de largura), a ilha atinge a sua altitude máxima (914 metros) no Morro Alto na parte norte. Um genuíno paraíso para os amantes da natureza e montanhismo, o selvagem, quase virgem e desabitado interior, oferece maravilhosas e calmas paisagens, marcadas por altas elevações – descendo ora suave, ora abruptamente até ao mar – e murmurantes riachos, que muitas vezes se transformam em espectaculares cascatas. Pitorescas lagoas de crateras e fontes sulfurosas – testemunhas da sua, já distante, origem vulcânica – e também os vales profundos são características da paisagem da ilha de Flores.
Com a vila da Fajã Grande na sua costa oeste, Flores orgulha-se do facto de ser um dos pontos mais a ocidente da Europa. Os cerca de 4000 habitantes da ilha vivem nas localidades que se estendem ao longo da sua muito recortada e extremamente escarpada costa, onde inúmeros ilhéus recortam a linha costeira a todo o redor da ilha. Flores está dividida por dois concelhos, Santa Cruz das Flores, a capital que está situada na parte central da costa este, e Lajes das Flores, na costa sul. A maioria da população vive nestas duas vilas.... melhor dizendo, povoações.
Supostamente descoberta em 1452 pelo navegador Diogo de Teive, quando regressava da Terranova, o povoamento das Flores só se desenvolveu em grande escala nos finais do século XV, iniciado por um nobre flamengo, que trouxe com ele plantas de cultivo e gado. No entanto, como também aconteceu noutras ilhas dos Açores, os colonos não estavam, inicialmente, interessados na agricultura tradicional, mas sim no cultivo do pastel, que era muito mais rentável. O único problema era a localização e isolamento da ilha e o facto dos barcos terem horários muitos irregulares fez com que a exportação do pastel fosse muito complicada, devido ao aumento dos custos. Tudo isto levou ao abandono do cultivo do pastel no início do século XVI. Pela mesma altura, novos colonos chegaram – desta feita vindos de Portugal – e começaram a trabalhar as terras extremamente férteis, cultivando cereais, trigo e vegetais. Mais uma vez, devido às dificuldades de exportar as suas ricas colheitas e pour que as condições de vida não melhoraram, muitos colonos decidiram abandonar a ilha e emigraram para a América à procura de mais sorte.
A falta de progresso e pouco desenvolvimento económico continuou até ao século XX, altura em que a indústria baleeira se desenvolveu. Esta actividade foi trazida pelos baleeiros americanos já em 1860, e atingiu o seu auge já em meados dos anos 1930. Embora os rendimentos da ilha tenham melhorado por um curto espaço de tempo, esta actividade não beneficiou a maioria da população que continuou a viver em grande pobreza e por causa disso o fluxo migratório proseguiu duma maneira constante.
Somente em meados do século XX, se começou a notar sinais dos tempos modernos na ilha das Flores. Em primeiro lugar, a Armada Portuguesa ergueu uma base no concelho de Lajes (a sul da ilha), depois os franceses construíram uma estação de rádio militar para controlo do tráfico da rádio internacional. Consequentemente, devido a estes desenvolvimentos, a rede eléctrica e de estradas foi estabelecida, e, em 1986, Flores teve finalmente o seu aeroporto. No entanto, o desenvolvimento da ilha seguiu a um ritmo muito lento e – impensável para muitos de nós – foi só em 1986, que pela primeira vez se viu televisão na Fajã Grande! Entretanto a ilha já tem um cinema. Todavia, a emigração continua e a ilha já perdeu mais de metade da sua população no decorrer dos vários séculos.
Aqueles que não desistiram, continuam a viver essencialmente da agricultura e criação de gado e baseiam as suas esperanças no crescimento do turismo, indústria esta que é apoiada pela União Europeia, que investiu em diversos projectos com a perspectiva de melhorar este sector, aproveitando o enorme potencial da ilha.
Texto retirado do blogue Go Live With Livestream