PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
IN ALBIS
Chama-se In Albis ao domingo imediato ao da Páscoa, porque, nos primórdios da cristandade, era nele que os neófitos, ou seja os cristãos baptizados durante a vigília pascal, depunham a túnica branca do baptismo que haviam recebido, naquela noite santa. No entanto, este domingo também tem outras designações, sendo conhecido por Quasi modo por serem estas as primeiras palavras do antigo intróito da missa, deste dia. Esta designação está intimamente relacionada com uma das personagens do romance de Victor Hugo, Nossa Senhora de Paris. Trata-se duma personagem que recebeu este nome, por ter sido abandonada à nascença e encontrado neste dia, junto da catedral parisiense. Quasimodo, no entanto, nasceu com notáveis deformações físicas, descritas por Victor Hugo como "uma enorme verruga que cobre seu olho esquerdo" e "uma grande corcunda". Foi recebido e adoptado pelo arcediago da catedral, que o baptizou. Desconhecendo-lhe nome, atribuindo-lhe aquele nome, por ter sido encontrado naquele domingo, designando-o, depois de adulto, para ser sineiro da Catedral. Devido ao alto som dos sinos de Notre Dame, Quasimodo acabou por ficar surdo. Apesar da sua aparência monstruosa, Quasimodo apaixonou-se pela cigana Esmeralda, salvando-a de ser assassinada.
Na Fajã Grande, onde este episódio da literatura mundial, obviamente, era desconhecido, e em muitos outras localidades, este domingo, que ocorre, precisamente, oito dias depois da Páscoa, correspondendo ao domingo seguinte ao domingo de Páscoa, agora, também denominado Dia da Misericórdia de Deus, sendo a oitava da Páscoa era designado como domingo da Pascoela, por simbolizar o prolongamento do próprio domingo de Páscoa, numa atitude festiva da Igreja e dos fiéis, podendo dizer-se que representa uma espécie de diminutivo da palavra Páscoa, ou Páscoa Menor e era neste domingo que se iniciavam as celebrações e as festas em louvor do Divino Espírito Santo, pois a partir deste dia todas as coroas dos vários impérios da freguesia se deslocavam, em cortejo, acompanhadas dos foliões e das bandeiras, para a igreja paroquial, onde ficavam presentes durante a missa de domingo. Por isso estes domingos eram designados pelos domingos em que o Senhor Espírito Santo ia à Missa. Nos pátios das casas onde existiam crianças eram colocadas bandeiras do Espírito Santo, vermelhas e brancas, com o desenho da coroa ou da pomba no centro.
Segundo a tradição popular, nalgumas localidades, era durante a celebração da missa, no domingo de Pascoela – quando esta se realiza às três horas da tarde em ponto – que, entre a elevação da hóstia e do cálice, «ao pedir-se uma graça, ela seria concedia».