PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
INSÍGNIAS AUTONÓMICAS E FESTEJOS DO ESPÍRITO SANTO
Ontem, feriado na região, celebrou-se, aqui nos Açores, à mistura com os festejos em honra do Divino Espírito Santo, o dia dos Açores. Integrada nas celebrações deste dia, realizou-se, na cidade da Horta, uma sessão solene, presidia pela Presidente da Assembleia Regional, com o objectivo de homenagear quase quatro dezenas de cidadãos, na sua maioria naturais dos Açores, uns residentes nas ilhas outros dispersos pela diáspora e alguns já falecidos, a quem foram entregues as várias Insígnias Autonómicas da Região.
Há dias havia recebido, efusivamente, a notícia, de que um dos homenageados pela Assembleia Regional dos Açores era Monsenhor José Soares Nunes, meu professor no Seminário Episcopal de Angra do Heroísmo e a quem devo grande parte da minha formação académica e humana. Ao humilde e carismático Monsenhor José Nunes seria atribuída, a Insígnia Autonómica de Mérito Cívico dos Açores. Essa a razão pela qual decidi acompanhar a cerimónia, transmitida em directo pela RTP Açores.
Aguardei pacientemente que chegasse a ocasião de ser chamado o Dr José Nunes e ouvir ler o seu currículo. Os olhos encheram-se de lágrimas e o peito de emoção, ao ver aquele homem simples, humilde, bondoso e simpático, aquele amável, dócil, modesto e competente professor receber um galardão que com toda a justiça lhe foi atribuído pelo Parlamento Açoriano. Bem hajam os que tiveram a hombridade de o fazer.
No entanto a atribuição de uma outra Insígnia Autonómica de Reconhecimento, também me encheu de gáudio e contentamento. Foi a atribuída ao Seminário Episcopal de Angra, na altura em que celebra os 150 anos da sua existência. Nada mais justo e merecido.
Também homenageado foi o António José Cassiano, actualmente a paroquiar em São Miguel, Monsenhor Júlio da Rosa, um antigo aluno do Seminário de uma geração já posterior à minha e, a título póstumo, o padre José Simões Borges. Isto significa, em termos gerais, que das 37 Insígnias Autonómicas atribuídas pela Assembleia, seis dizem respeito directamente ao velhinho Seminário de Angra, o que é gratificante, pelo menos para quem, como eu, o frequentou durante doze anos.
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Hoje, aqui, na freguesia de São Caetano do Pico, celebra-se a festa em honra e louvor do Divino Espírito Santo. Para além da parte litúrgica, onde sobressaem a celebração da eucaristia, o terço cantado durante a semana anterior e a organização de procissões e cortejos, esta festa consubstancia a partilha da carne e do pão, outrora apenas junto dos mais pobres, hoje extensiva a todos. Este sentido de partilha tem um significado muito abrangente porquanto a ela estão ligados rituais e costumes ancestrais, geralmente relacionados com promessas feitas pelos antepassados em momentos de enorme angústia e aflição, em virtude de crises sísmicas, catastróficas, acontecidas na altura, durante as quais o povo solicitava o auxílio divino para travar as correntes de lava que arrasavam a ilha, destruindo habitações, povoados e culturas. Na realidade, os festejos em honra e louvor do Divino Espírito Santo constituem, na freguesia de São Caetano, como em toda a ilha montanha, uma genuína tradição, muito provavelmente trazida pelos primeiros povoadores e implementada com um cunho religioso e cultural muito forte, mantendo-se, ainda hoje, com rituais e celebrações muito semelhantes às dos tempos antigos, com destaque para um inusitado e interessante cerimonial em que o "imperador" leva, em procissão, a coroa, até à igreja, com a qual é “coroado”, no fim da missa. De realçar ainda a realização da chamada "função" que consiste, fundamentalmente, na participação colectiva num almoço de praticamente toda a população da freguesia que se senta, conjuntamente, à mesma mesa, saboreando as típicas e tradicionais sopas do Senhor Espírito Santo. Mas o que mais revela este sentido de partilha mútua e de comunhão recíproca das festas do Espírito Santo, é o facto de em São Caetano, como em todas as freguesias do Pico e até em alguns lugares da mesma freguesia, também se distribuir por todos os habitantes e pelos forasteiros massa sovada, no caso de São Caetano, sob a forma de rosquilhas.
Texto publicado no Pico da Vigia, em 21 de Maio de 2013.