PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
IR AO MOINHO
Desde o início do seu povoamento que a agricultura, juntamente com a pecuária, é, desde longa data, um dos pilares fundamentais da economia das ilhas açorianas. Na Fajã Grande, como em toda a ilha das Flores.na primeira metade do século passado, cultivava-se sobretudo o milho.
A importância do milho na economia da freguesia acresce do facto de em tempos relativamente recentes, o milho ser frequentemente utilizado como moeda de troca e como meio de pagamento de serviços de vária ordem neste contexto, marcado por uma economia de subsistência Ao longo do ano, quando não havia farinha ou quando a existente estava prestes a chegar ao fim era necessário tirar uma parte do milho que estava guardado nos estaleiros, de maneira a encher uma moenda que seria levada ao moinho. Para tal era necessário tirar do estaleiro uma certa quantidade de milho, o qual, antecipadamente devia ser descascado, caso se tratasse de cambulhões. A retirada destes do estaleiro deveria ser sempre inversa à da sua colocação, de forma a não prejudicar o que lá ficava e apenas na quantidade necessária para encher a respectiva moenda, que de imediato seria levada ao moinho.
Na Fajã Grande havia quatro moinhos todos na Ribeira das Casas, dois pertencentes a tio Manuel Luís, um ao Manuel Dawling e o Moinho do Engenho, que teve vários proprietários, acabando, mais tarde, por ser abandonado. A Ponta tinha os seus moinhos e as pessoas da Cuada iam moer o seu milho à Fajãzinha, por lhes ficar mais perto. Competia a cada agricultor ou a um membro da sua família levar a sua própria moenda ao moinho, tarefa geralmente atribuída às raparigas, as quais aproveitavam a ida para por em dia a conversa com os namorados. Na ocasião em que se entregava a moenda era combinado com o moleiro o dia em que estaria pronta. Ao moleiro competia apenas moer o milho, pagando-se ele próprio do seu trabalho através de uma “maquia” de farinha que retirava de cada uma das moendas. Como geralmente não a utilizava para uso pessoal, dado que ele próprio também tinha as suas terras de milho, vendia-a compensando assim todo o trabalho que tinha e as horas que passava no moinho, onde geralmente pernoitava, pois a substituição de cada moenda era manual.
Os moinhos na Fajã Grande, como aliás em toda a ilha das Flores eram movidos a água, por isso eram construídos junto das ribeiras donde se desviava a água para um rego ou levada, que corria na direcção do moinho. A água encanada no respectivo rego corria no mesmo com maior pressão, saía do rego e projectava-se contra uma enorme roda dentada cujo movimento comunicava a toda a restante engrenagem que acabava por movimentar a mó. Na Fajã Grande os moinhos ficavam situados junto da Ribeira das Casas e deles, actualmente, apenas restam ruínas.
Os moinhos eram construídos em locais de rara beleza, embora tendo o inconveniente do relativo isolamento e da distância face aos núcleos populacionais. Além disso os caminhos de acesso, ao longo da Ribeira das Casas eram íngremes e sinuosos e a moenda tinha que ser carregada às costas ou cabeça. Escolher o moinho a que se devia ir dependia de um conjunto de factores, entre os quais a distância a percorrer e os meios de acesso, as relações de amizade e de parentesco que se tinham com os moleiros, o montante das maquias, a qualidade do serviço, a disponibilidade do moleiro e o atendimento. Mas na Fajã Grande, os moinhos mais procurados eram os do Tio Manuel Luís, que tratava muito bem a sua clientela que era sempre atendida educadamente e muito bem servida.
As pessoas, em tempos de menor procura, esperavam até que a farinha estivesse feita ou regressavam a casa e voltavam ao moinho no dia seguinte ou no dia indicado pelo moleiro. Na Fajã Grande ia.se ao moinho com muita frequência, pelo que os moinhos eram espaços de convívio social de eleição. Por vezes eram autênticas romarias, uns a ir outros a vir, parando e descansando aqui e além. Os moinhos eram importantes locais de convergência, sendo usual o facto de neles ou nas suas imediações se encontrar sempre não apenas que ia ao moinho mas as lavadeiras da Ribeira das Casas, as pessoas que iam ou vinham da Ponta e ainda os que iam trabalhar para as terras ao redor dos próprios moinhos.
Ir ao moinho era fundamental na vida da Fajã Grande. O milho era levado ao moinho em sacas de pano que vinham da América. Competia a cada agricultor ou a um membro da sua família levar a sua própria moenda ao moinho, tarefa geralmente atribuída às raparigas, as quais aproveitavam a ida para por em dia a conversa com os namorados. Na ocasião em que se entregava a moenda era combinado com o moleiro o dia em que estaria pronta.
Ao moleiro competia apenas moer o milho, pagando-se ele próprio do seu trabalho através de uma “maquia” de farinha que retirava de cada uma das moendas. Como geralmente não a utilizava para uso pessoal, dado que ele próprio também tinha as suas terras de milho, vendia-a compensando assim todo o trabalho que tinha e as horas que passava no moinho, onde geralmente pernoitava, pois a substituição de cada moenda era manual.