PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
JUSTA HOMENGEM A COELHO DE SOUSA
Ontem, dia 21 de Fevereiro, a Assembleia Municipal e a cidade de Angra, finalmente, prestaram uma justa e devida homenagem a um dos mais ilustres terceirenses, o padre Coelho de Sousa, galardoando-o com a Medalha de Honra do Município Angrense.
Manuel Coelho de Sousa nasceu a 30 de Setembro 1924 na Vila de São Sebastião, ilha Terceira, ali falecendo a 2 de Setembro de 1995. Filho de João de Sousa Pacheco e de Maria de Melo Toste, entrou para o Seminário de Angra, em Outubro 1937 onde cursou Filosofia e Teologia, ordenando-se de presbítero em 20 de Junho 1948, precisamente no dia, em que a Imagem Peregrina de Nossa Senhora de Fátima visitava os Açores.
Foi professor no Seminário de Angra e no Liceu da mesma cidade, jornalista e chefe de redacção de “A União.” Já em plena década de sessenta frequentou o Curso de Filologia Hispânica na Universidade de Salamanca, Espanha, após o que regressou aos Açores, sendo nomeado pároco de São Sebastião, onde permaneceu até à data do seu falecimento. Durante esse período de tempo foi director-adjunto do jornal “A União”, e mais tarde seu director.
Além de pároco, professor e jornalista, Coelho de Sousa notabilizou-se, também, como orador sacro, como poeta, dramaturgo, pintor, encenador e ensaiador, escritor e animador cultural. Da sua vasta obra literária destacam-se, na poesia Poemas de Aquém e Além (1955) e Três de Espadas (1979), e na prosa Na Rota da Emigração Amiga (1983), Migalhas (1987) e Boa Nova (1994).
Tive o Padre Coelho de Sousa como meu professor nos primeiros anos de estudo no Seminário de Angra, em duas disciplinas: Português e Desenho. Confesso que a segunda nunca me motivou, não por culpa dele mas por falta de aptidão minha. Mas como professor de Português guardo dele as mais belas lições que foram despertando em mim acelerado interesse não só pela prosa mas sobretudo pela poesia. Recordo uma aula de Português em que o tema era o soneto. Tarefa nada fácil a qualquer professor, a de ensinar o soneto a crianças. Coelho de Sousa fê-lo de forma sábia, agradável e, sobretudo, cativante. No fim da aula, Coelho de Sousa munido dos mais interessantes e conhecidos sonetos de Camões, distribuiu um por cada aluno, com a tarefa de o decorar e o declamar na aula seguinte. A mim coube Erros meus, má fortuna, amor ardente que ainda hoje declamo de cor e que mais tarde me deliciei ao ouvi-lo cantar, magnificamente, por Amália Rodrigues.
Para além de professor e de sacerdote, apreciei sempre Coelho de Sousa como um homem digno, honesto, exemplar, educado, elegante, simpático e meigo. Deliciava-me ouvi-lo declamar os seus poemas, deleitava-me com o deslumbramento da sua sensibilidade estética, adorava presenciar as suas peças de teatro levadas à cena pelos teólogos e guardo dele a mais verdadeira memória de professor amigo, sincero e nobre nas suas relações comigo.
Em boa hora, pois, foi prestada uma justa homenagem, àquele que desde há muito a merecia.
O padre Coelho de Sousa, no entanto, já havia sido homenageado pela população da freguesia que o viu nascer, crescer e que o teve como pastor, mandando edificar-lhe um busto na adro da Matriz e atribuindo-lhe o nome a uma rua na Vila S. Sebastião.
Aqui lhe presto, também, a minha simples, humilde, singela, mas sincera e grata homenagem.