PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
LAMENTO DA SEBE PODADA
Lamento o choro dos salgueiros, dos álamos e dos choupos
E ouço, ao longe a voz da desistência, das mãos atadas, encolhidas,
Tentando remendar o silêncio das folhas destroçadas, tentar
Estimulando os murmúrios aveludados dos ramos destruídos.
Hoje é dia de dor pujante, de silêncio amargurado, de sonhos inacabadas,
Onde se revolta, dramaticamente, a destruição dos troncos virgens,
Das folhas imberbes, da robustez consubstanciada no desalinho.
Espaço perdido, contra o qual u vento se atira, loucamente,
Como se acalentasse o suplício das folhas destruídas
E as confundisse com os destroços de guerras nunca terminadas,
Onde as flores murcham, à porfia, e as fontes secam, em frenético reboliço.
O nítido brilhar das gotículas de água, cessa a inebriante teimosia
De se suspender nas folhas verdejantes
E surgir, apenas, como arquétipo da desilusão e da amargura,
Na companhia da verdade perdida, salpicada de brisas matinais.
A decisão da poda, mesmo que turva de ilusões, é sempre cruel,
Excede-se em labirintos energúmenos que o próprio vento não desfaz.
Talvez, depois da poda, o vento se minimize e aquiete súplicas
Na eminência dum recheio opípara, ornado de encanto e ternura.
Sebe de cor verde, quando te revoltas,
A tua voz ergue-se silenciosa e indefinida
Transformando a demência dos teus troncos,
Velhos e entontecidos,
E a linearidade das tuas folhas,
Truncadas e fendidas,
Numa doce ilusão, onde domina quietude
Onde há beleza perene e elegância salutar.
Durante toda a tua curta vida,
- curto período em que não és podada -
Acredita que o vento continua a ser o teu amante
Mesmo que as tuas folhas amareleçam
E os teus caules se calcifiquem de musgos e limos.
O que eu quero é ver-te no meu jardim
Podada, sim, mas elegante e altiva.