PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
LITANIA DO MAR
Mar,
brejo incomensurável
de ondas e cachões d’espuma,
- rochedos de lava, areais de prata.
Mar,
refluxo azulado
de naufrágios e horas amargas ,
- barcos perdidos, horizontes vermelhos.
Mar,
reboliço voluptuoso
de marés incontidas e de ondas abruptas
- varadouros de rilheiras carcomidas
Mar,
estância sufocada
de algas murchas, arrancadas aos rochedos
- gaivotas escorraçadas em cio
Mar,
poema estraçalhado
escrito por quilhas, rimado por remos
- quadras e sonetos sem versos.
Mar,
castelo solitário,
tabernáculo de sereias, cubículo piratas
- sonhos desenhados em brisas dispersas.
Mar
aconchego agreste
de brumas, tempestades e caligens,
- epicentro de viagens perdidas.
Mar
de palavras debruadas a prata
lembranças, de sonhos e desejos de sol
- canto dolente, cio de liberdade.
Mar
hino inacabado
de estigmas e de lágrimas derramadas,
- percursos perdidos, destinos incertos
Mar
das madrugadas infinitas
onde a voz do vento embala e entontece
- as velas que partem sem destino.
Mar
cais abandonado
onde o voo das gaivotas rompe a solidão:
- a hora do embarque foi adiada
Mar
gesta inacabada
do pão, da morte, da vida e da saudade
- esperança paramentada de amargura.
Mar
roteiro da grande viagem
onde, no acordar de cada madrugada,
- me vejo, revejo e me encontro comigo