PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
MAE
Mãe eras mais do que uma mulher.
Eras duas, três mulheres...
Eras todas as mulheres do mundo.
Mãe lavravas, sachavas, plantavas...
E ainda te sobrava tempo para nos amares.
Mãe, nos beliscavas, ralhavas e acariciavas.
Mas era tudo amor. Amor puro de mãe pura.
Na madrugada, acendias o lume com lenha verde,
Choravas com o azedume dos incensos mas clareavas toda a casa.
Mãe sopravas, sopravas, respiravas fumo e a água fervia.
O silêncio informava que pai há muito se levantara.
O ar puro confidenciava que o café de favas e chicória já estava pronto.
Café de mistura. Feito por mãos puras e ternas.
E exalava um perfume tão doce.
Enchia a casa e chegava às nossas camas.
Depois chamavas por nós: um para ir buscar as vacas,
Outro acarretar água da fonte. Outro tirar o esterco do palheiro…
Depois, sentávamo-nos à mesa e partilhavas pão, queijo e café.
Mãe, já não trabalhas, não plantas, não fazes café de mistura.
Faz hoje sessenta e três anos que partiste
Mas continuas amando-nos.
Os que estão e que já partiram para junto de ti
Tenho saudades de seus beliscões.
Das tuas recriminações... De suas carícias...
Daquelas manhãs de silêncio...
Onde o ar era puro e o café de mistura.
NB – Adaptação do poema “Mamãe” de Marco António do Nascimento.