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MIGAS

Quarta-feira, 29.01.14

Mesa pobre e pouco variada era a da Fajã Grande, na década de cinquenta e nas anteriores. Cada família alimentava-se com o que produzia ou criava. Nenhum alimento se comprava, até porque não havia dinheiro nem sequer algo que se pudesse comprar. Sendo assim os pratos típicos e da cozinha fajãgrandense eram poucos, escassos e de muito reduzida opulência. Quase insignificantes. No entanto, existiam alguns pratos que, apesar de simples e pobres, se podem hoje considerar, verdadeiramente, típicos ou, se quisermos, tradicionais da Fajã Grande das Flores. A maioria era feita tendo como elemento básico o pão. Mas como este era cozido em cada casa, uma vez por semana, regra geral, ao fim de algum tempo, ficava duro, ressequido, rijo, por vezes bolorento e pouco tragável. Daí a capacidade de o apresentar, quando já velho, cozinhado de forma que parecesse ou se assemelhasse como quando estava fresco, como era o caso do “pão estufado”. As “migas”, por sua vez, também feitas à base de pão, eram um prato muito saboroso, de fácil realização e destinado a aproveitar o pão velho. Faziam-se, geralmente, com pão de trigo, embora as famílias mais pobres as fizessem com pão de milho. Para além do pão era necessária apenas, água, cebola, sal, alho, salsa, banha de porco e umas folhas de hortelã.

A água era posta a ferver, em caldeirão de ferro, juntamente com a salsa, dois dentes de alho picado, com a cebola cortada e um pouco de sal. Quando a água já tivesse adquirido o sabor dos ingredientes, mantendo sempre a fervura, juntava-se o pão, partido aos pedaços, onde ficava a ferver, durante algum tempo. Depois escorria-se a água e juntava-se banha de porco e a hortelã, tapava-se o tacho durante mais algum tempo. Por fim, segurando bem a tampa, sacudia-se violentamente, a fim de misturar a gordura e a hortelã e o pão adquirir o sabor destes ingredientes, sobretudo com o perfume da hortelã.

Era um delicioso prato que geralmente se comia de manhã, acompanhado duma boa tigela de café e uma “niquinha” de queijo fresco. Se comida como refeição do dia ou da noite, tinha ainda a vantagem de não necessitar de outro conduto para acompanhar, pois o sabor da banha era, por si próprio, já um conduto.

As migas serviam-se quentinhas, mas as que sobravam, a meio da tarde ou noutra ocasião qualquer, mesmo frias, eram excelentes.

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publicado por picodavigia2 às 14:58





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