PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
NAU CATRINETA (II)
Outra versão popular da Nau Catrineta:
Lá vem a Nau Catrineta,
Que traz muito que contar,
Há sete anos e um dia
Que andam de volta do mar!
Não tinham já que comer,
Nem tampouco que manjar.
Já mataram o seu galo
Que tinham para cantar.
Já mataram o seu cão
Que tinham para ladrar.
Já mataram o seu gato
Que tinham para miar
Não tinham mais que comer,
Nem tampouco que manjar.
Botaram sola de molho
Para no outro dia jantar.
Mas sola era muito rija
Que não a puderam rilhar.
Botaram sortes ao vento
Quem haviam de matar,
A primeira que caiu
Foi ao capitão general.
- Arriba, gageiro, arriba,
Arriba ao mastro real!
Olha se vês parais reais
Ou reinos de Portugal?
“Eu não vejo tuas praias,
Nem reinos de Portugal,
Vejo três espadas nuas
Todas para te matar.
- Arriba, Pedro, arriba,
Meu marinheiro leal;
Olha se vês minhas terras,
Ou reinos de Portugal.
O gageiro lá em riba
Em altas vozes gritara:
“Alvíssaras, senhor, alvíssaras
Meu Capitão general!
Que eu já vejo as tuas terras
E reinos de Portugal.
Se não nos faltar o vento
A terra iremos jantar.
Lá vejo muitas ribeiras,
Lavadeiras a lavar;
Vejo muito forno aceso,
Padeiras a padejar.
E vejo muitos açougues,
Carniceiros a matar.
Também vejo três meninas
Debaixo de um laranjal.
Uma lavrando ouro,
Outra a prata real;
A mais bonitinha delas
Em procura do dedal.
- Essas três são minhas filhas,
Todas três te eu hei-de dar.
Uma para te vestir,
Outra para te calçar,
A mais bonitinha delas
Para contigo casar.
“Não quero as tuas filhas,
Que Deus tas deixe gozar;
Que eu tenho mulher em França,
Filhinhos de sustentar:
Quero a Nau Catrineta
Para nela navegar.
- A Nau Catrineta, amigo,
Eu te não posso dar.
Assim que chegar a terra
Pois ela vai a queimar.
Dar-te-ei tanto dinheiro
Que o não saibas contar.
“Não quero os teus dinheiros
Pois te custam a ganhar;
Quero a Nau Catrineta
Para nela navegar,
Que assim como escapou desta
Doutra ainda há-de escapar
Romanceiro anotados por Teófilo Braga.