PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
NAUFRÁGIOS NAS FLORES NO SÉCULO XVI
Desde os primórdios do seu povoamento, quiçá muito antes, que na ilha das Flores ocorreram inúmeros naufrágios, uma vez que a maior ilha do grupo ocidental açoriano e mais concretamente o seu ponto mais ocidental, a Fajã Grande era ponto de referência para a navegação que transitava no Atlântico, entre a Europa, a América e a África. Os relatos de muitos desses naufrágios, muito provavelmente, ter-se-ão perdido no tempo, no entanto, a partir do povoamento da ilha, ou seja, a partir do século XVI, a história das Flores regista alguns desses tão naufrágios.
O primeiro naufrágio nas Flores de que há registo ocorreu em Março de 1536 e foi resultante de um ataque de piratas franceses, sendo as vítimas quatro caravelas portuguesas. As quatro embarcações aguardavam na ilha, provavelmente numa das suas mais abrigadas baías, as naus que vinham da Índia, carregadas de produtos, a fim de os carregar e trazer para o reino. Quando menos esperavam foram atacados por corsário franceses que afundaram duas, apoderando-se das outras duas e levando-as consigo.
O segundo naufrágio ocorrido nas Flores foi o de um galeão português que fazia escolta a navios de carga oriundos do Brasil. Ocorreu em 1577. Apesar de se ter afundado, consta que algum tempo depois foram recuperadas algumas peças de artilharia que lhe pertenciam.
Em 1591 naufragou próximo das Flores a nau Ascencion, de nacionalidade espanhola, capitaneada por António Henriques. O afundamento da nau ocorreu durante a chamada Batalha da Ilha das Flores, em que uma frota espanhola, proveniente da Índia se envolveu em tiroteio com uma armada inglesa.
Finalmente, no ano seguinte, a embarcação portuguesa Santa Cruz, sentindo-se perseguida por barcos de piratas ingleses, de corso, comandados pelo célebre Sir Walter Raleight, foi voluntariamente encalhada e incendiada pela sua própria tripulação, evitando assim render-se ao roubo daqueles corsários. Consta, apesar de tudo, que os ingleses, desembarcando em terra em grande número ainda conseguiram recuperar e roubar uma poa parte da carga do Santa Cruz, tendo perseguido, de seguida, os tripulantes da embarcação portuguesa.
No século seguinte foram poucos os naufrágios de que há registo, sendo de destacar o de uma embarcação, vinda de Ponta Delgada, que naufragou perto do Monchique, morrendo dois dos seus tripulantes – Manuel Gomes e António Coelho, ambos residentes na freguesia de Ponta Delgada. O naufrágio ocorreu no dia 6 de setembro de 1679.
Fonte – Francisco António Pimentel Gomes, A Ilha das Flores, Da redescoberta à actualidade.