PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
NOME FAGUNDES
Nas duas últimas décadas do século passado, andava eu na casa dos quarente – cinquenta, eram muito comuns e frequentes as acções de formação para professores, umas organizadas pelos organismos regionais dependentes do Ministério da Educação, outras, simplesmente, propostas e oferecidas por entidades ou instituições privadas. Nas escolas, uma procura desusada às mesmas, uma vez que a sua participação, para além de um direito estabelecido no estatuto da carreira docente, enriquecia o currículo e garantia créditos, muitos deles necessários à progressão na carreira e, além disso, geralmente, consubstanciava um dia de alívio da actividade docente e ocasião inequívoca para um convívio mais alegre e folgazão. À noite, na televisão, desfilavam telenovelas brasileiras, muitas delas tendo como protagonista o prestigiado actor António Fagundes.
A participação nessas acções, muitas vezes era de opção livre, mas para outras éramos convidados, por vezes até obrigados a frequentá-las, porquanto, exercendo cargos de chefia nas escolas, devíamos informar-nos sobre temas de interesse didáctico e pedagógico, a fim de, mais tarde, os partilhar com os colegas de grupo na escola a que pertencíamos. Bons e santos tempos, estes.
Certa vez, numa altura em que era responsável pelo Departamento de Língua Portuguesa da escola onde leccionava, intimaram-me a participar numa dessas acções, organizada por um organismo do Ministério, na região onde a escola se situava. E tive que ir.
Logo no primeiro dia de actividades, no encontro inicial, atendendo a que os professores participantes eram oriundos de escolas diferentes e que a maioria não se conhecia, as duas formadoras propuseram que cada um se apresentasse, mas de forma diferente do habitual, através da estória do seu nome.
De rompante, começaram a chover estórias interessantíssimas, umas simples, outras comoventes e uma ou outra, até um pouco dramática. Apareceu de tudo: um nome herdado da avó, uma opção da madrinha, uma irmã mais velha falecida, um avoengo do século passado, a devoção especial a um santo, um milagre de Fátima, a padroeira da freguesia, um simples acaso, etc., etc.. Todas elas estórias muito interessantes e comoventes. relatadas com entusiasmo e, sobretudo, com uma desusada mas bravata ostentação.
Chegou a minha vez. Eu estava numa extremidade da sala e fui o último. Então contei:
- Eu chamo-me Fagundes porque, quando estava grávida de mim, a minha mãe via muitas telenovelas, em que o actor principal era o António Fagundes, por quem a minha mãe tinha um enorme fascínio e de quem gostava muito. Era o seu actor preferido. Quando nasci, em homenagem a ele, pôs-me o nome: “Fagundes”.
Foi uma risota geral. Mas não é que uma professora, na sua ingenuidade pura e cândida, se volta para mim, muito admirada, indagando:
- Ui! Nesse tempo já havia telenovelas?
A risada ainda foi maior.