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O ALFAIATE, O SAPATEIRO E OS LADRÕES

Sábado, 29.03.14

(CONTO TRADICIONAL)

Havia numa pequena aldeia, nos tempos em que os mortos eram sepultados no interior dos templos, uma igreja que estava constantemente a ser assaltada por dois ladrões. O pároco, já velho, muito agastado com tais crueldades e incapaz de impedir tais atrocidades, pediu aos seus paroquianos, que todas as noites ficassem, à vez, a vigiar a igreja dois homens da paróquia, a vigiar a igreja.

Certa noite coube a dois moços, jovens e ávidos de se divertirem durante a noite e que a todo o custo se queriam livrar daquela tarefa. Para isso contactaram o alfaiate e o sapateiro, os quais, mediante bom pagamento, decidiram ficar a guardar a igreja no lugar dos rapazes.

Os dois vigilantes, ao anoitecer, entraram no templo e subiram para o coro a fim de assim estarem mais escondidos e não serem vistos pelos ladrões. Era Inverno e a noite era longa, por isso, resolveram aproveitar o tempo, começando cada um a trabalhar no seu ofício. Lá pela noite dentro ouviram um barulho estranho. Eram os ladrões que chegavam para roubar a igreja. O alfaiate e o sapateiro, cheios de medo, calaram-se e ficaram muito quietos sem fazer barulho, deixando os ladrões entrar no templo, à vontade e com toda a liberdade. Os ladrões vinham carregados com sacos em que traziam não apenas dinheiro mas também alguns objectos roubados noutros lugares e estenderam um lençol no meio da igreja, colocando em cima dele tudo o que traziam de roubos e assaltos anteriores, a fim de verem melhor e apreciarem o seu pecúlio.

Não satisfeitos com o que tinha procuraram, no templo, mais alguma coisa que aumentasse o fruto dos seus roubos. Porém, no momento em que procuravam por toda a igreja alguma coisa que lhes interessasse, o alfaiate, levantando-se, gritou com toda a força do seu peito, mas com voz roufenha e muito disfarçada: "Acudam aqui, defuntos". Ao que o sapateiro logo respondeu gritando ainda com mais força, mas alterando a voz, como se fosse em eco: "Já lá vamos todos, já lá vamos todos juntos."

Os ladrões, cuidando que eram realmente os mortos a falar, apanharam tamanho susto que nem mais um minuto ficaram ali parados, fugindo da igreja a sete pés, como faíscas de labaredas. Largaram em debandada pela aldeia abaixo, deixando no meio da igreja tudo o que traziam dos seus roubos anteriores. O alfaiate e o sapateiro, apanhando-se sozinhos, correram logo para junto do que os ladrões haviam deixado sobre o lençol, no meio do templo. No entanto, depois de muito correr e já cansados, os ladrões pararam para descansar. Um deles disse: “Não devíamos voltar à igreja, para ver o que lá havia. Ao que o outro retorquiu: Eu não vou, pois aquilo talvez são coisas ou castigo do diabo e contra o diabo nós não podemos fazer nada".

Apenas o outro voltou à igreja, Entrou à socapa e, escondendo-se, pôs-se a escutar o que se passava. Naquele momento, porém, o alfaiate e o sapateiro, depois de terem dividido quase toda a fortuna pelos dois, disputavam, ferozmente, um real. Mas não havia maneira de se entenderem. Como a igreja estava escura e o ladrão não via nada aproximou-se e ao chegar junto deles disse:

- "Ai, meus amigos! Muitos devem ter sido os mortos que que vieram, pois nem toca a real a cada um".

Dito isto e cheio de medo, pôs-se em fuga e muito assustado foi contar ao outro o que se passaram. Fugiram ambos dali e nunca mais voltaram a assaltar a igrejinha daquela terra.

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publicado por picodavigia2 às 00:46





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