PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
O ARREGANHADO
Uma das estórias cómicas que se contava antigamente na Fajã Grande era a do Arreganhado. Rezava assim:
Era uma vez uma viúva que velando o seu marido morto, deitado dentro de um caixão, sobre a essa, lamentava-se assim:
- Ai, mei home, que desgraçada qu’ei sou porque morreste com Prazer e Alegria e me levas a minha Consolação entre as pernas. Ai Jasus! Que desgraçada qu’ei fique que já nan tenhe quen me sacuda u mei arreganhade!
Mas para que não houvesse interpretações maliciosas e desonestas vinha logo a explicação: Afinal a pobre viúva chorava e tinha toda a razão para fazer aquele pranto. Naquele tempo a pobreza era muita e quando falecia mais do que uma pessoa numa casa, para poupar dinheiro, sepultavam-se todas no mesmo caixão. Ora a pobre mulher perdera o marido e as três criancinhas que tinha no mesmo dia. As crianças eram três meninas. Uma chamava-se Prazer, outra Alegria e a terceira Consolação. A mulher mandara colocar as duas maiores, a Prazer e a Alegria, uma de cada lado do marido. A Consolação, por ser mais pequenina, foi-lhe colocada entre as pernas. E como na ilha das Flores era costume chamar arreganhado ao castanheiro, porque os ouriços ao caírem abrem-se, como que a rir-se ou arreganhados a fim de porem as castanhas à mostra, a parte final da estória está explicada. É que a pobre viúva também se lamentava por já não ter o marido para lhe sacudir o castanheiro, a fim de que os ouriços caíssem e deles retirasse as castanhas.
Ele há cada interpretação maliciosa!