PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
O CEDRO
O cedro era uma das árvores mais comuns na ilha das Flores, não apenas nos matos da Fajã Grande mas também por quase toda a ilha, tendo, inclusivamente, dado origem ao nome de uma das suas onze freguesias da ilha. Era sobretudo nas zonas da Água Branca, Burrinha, Pontas Brancas, Morro Alto e muitas outras que proliferava o cedro, perfumando os ares com os aromas das suas flores, pintando a paisagem com o verde das suas folhas e o castanho, revestindo rochedos e ravinas, cobrindo a ilha de uma inabalável beleza e de uma inebriante rigidez. Ontem como hoje o cedro, inclusive a nível mundial, é considerado uma das árvores mais bela, mais graciosa e de grande desenvolvimento, em quase todas as regiões do universo. A sua utilidade prende-se, especialmente, com a qualidade da sua madeira e do seu fácil desenvolvimento, como árvore de grande porte, podendo atingir cerca de 30 metros de altura. As suas flores são brancas e originam um fruto muito característico, as bagas que apenas tem utilidade de embelezamento. Pelo contrário, a sua madeira, para além de um delicioso cheiro, tem grande utilidade, sendo empregada em trabalhos de marcenaria de luxo e obras de entalhe, assim como na construção naval. Na Fajã era muito utilizada em móveis e utensílios agrícolas, sobretudo cangas, rodas de carros e rabiças de arados, devido à forma, por vezes sinuosa, do seu tronco bem como pela sua rigidez. Também muitas imagens religiosas e não só são esculpidas em cedro. Os charutos são envolvidos numa película finíssima de cedro, para tomar-lhe o aroma, e as caixas que os contém são confecionadas com esta madeira. O cedro ainda tem uma outra importante utilidade industrial, porquanto uma parte da sua madeira, submetido à destilação, fornece óleo – óleo de cedro. A bíblia refere com religiosidade os cedros do Líbano. Infelizmente, a ilha das Flores, em termos de exportação, nunca beneficiou tanto quanto era de esperar da sua riqueza em cedros, exportando-os. No entanto há relatos de que as Flores terá exportado madeira de cedro para a Terceira e que a madeira do teto da igreja de S. Francisco na cidade da Horta, também seria originária de cedros da maior ilha do grupo ocidental açoriano. O cedro ainda é considerado uma espécie com alto potencial para reflorestamento, seja para restauração de ambientes degradados, sequestro de carbono, paisagismo ou plantios com fins econômicos, devendo o plantio ser feito misturando-se o cedro com outras espécies, de preferência também nativas, dependendo da finalidade do plantio. O seu nome científico é Cedrela Fissilis Vell e apresenta espécies, como o cedro rosa, cedro vermelho, cedro branco, cedro batata, cedro-amarelo, cedro-cetim, cedro –da –várzea. Na Fajã Grande, o cedro, de tão abundante que era, também era utilizado como lenha, sendo cortado no mato e atirado pela rocha através das vergas ou arames. Era com troncos de cedros que os transeuntes entre a Fajã e Santa Cruzam jangadas para atravessar a Caldeira da Água Branca, com o objetivo de encurtar e descansar. A fama dos cedros das Flores, outrora, foi tal que consta que, em 1800, por aviso régio, a rainha D. Maria I, ordenou que o Capitão General remetesse ara o reino um caixote com sementes de cedros produzidos na ilha. Consta que as ordens foram cumpridas.