PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
O COMPADRE POBRE E O COMPADRE RICO
(CONTO TRADICIONAL)
Numa certa terra moravam dois compadres. Um era pobre e o outro rico, mas muito avarento, sem querer dar nada a ninguém do muito que possuía. Naquela terra era costume que todos, quando matassem o seu porco, oferecessem um bocado do lombo ao senhor padre. O compadre rico, que era muito forreta e queria matar porco sem dar um pedaço do lombo ao padre, chegou junto do compadre pobre e começou a dizer mal daquele costume e que não concordava com aquele hábito. Além disso o padre vivia melhor do que eles e não precisava que lhe dessem nada. Então o compadre pobre aconselhou o compadre rico a que quando matasse o seu porco, o dependurasse no quintal para que toda a gente, incluindo o padre, o visse. Durante a noite, às escondidas ia ao quintal, pegava no porco e guardava-o em sua casa, bem escondido, para depois, na manhã seguinte, dizer toda a gente que lho tinham roubado. Assim livrar-se-ia de dar um pedaço de lombo ao padre.
O compadre rico ficou muito contente com aquela genial ideia do amigo e seguiu à risca o que o compadre pobre lhe tinha dito. Depois de pendurar o porco no quintal, deitou-se com a intenção de ir de madruga ao quintal, buscá-lo. Ninguém o havia de ver e o porco havia de ficar muito bem escondido em sua casa e o padre não apanhava nada do lombo nem de nenhuma outra parte. Mas o compadre pobre, que era espertalhão, antecipou-se e, durante a noite, foi ao quintal onde estava o porco e roubou-o. No dia seguinte, quando o avarento deu pela falta do porco, correu a casa do compadre pobre e, muito aflito, contou-lhe o acontecido. Este, fazendo-se desentendido, dizia-lhe, baixinho:
- Boa, compadre! Bravo! Muito bem, muito bem! Assim é que o compadre há-de contar ao senhor padre e safar-se-á de lhe dar um pedaço de lombo!
Mas o compadre rico cada vez teimava mais que lhe tinham roubado o porco mesmo a sério e de verdade, enquanto o outro cada vez o apoiava e incentivava mais para que contasse assim, tudo muito bem “contadinho”, ao senhor padre, porque assim o reverendo acreditaria de certeza. Já farto de o ouvir, o compadre rico foi-se embora desesperado, enquanto o pobre, a rir-se dele, ficou com o porco todo inteiro para si, sem que o compadre rico dele desconfiasse.