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O EMIGRANTE DE SÃO CAETANO

Sábado, 01.02.14

Crónica de Lélia Nunes, publicada no “Portuguese Times”, edição nº 2113, de 21 de Dezembro de 2011.

 

“No último dia 12 de novenbro, juntamente com a comemoração do 20º aniversário, a Portuguese-American Leadership Council of the United States – PALCUS (Conselho de Liderança Luso-Americana dos Estados Unidos), em noite de gala realizada na cidade de  Washington, homenageou  algumas personalidades portuguesas ou luso-americanas que se destacam por sua liderança no exercício profissional  e/ ou na realização de atividades  comunitárias de expressivo valor para  o desenvolvimento  das  Comunidades Portuguesas dos Estados Unidos. Uma tradição instituída em 1996 e que ano após ano vem distinguindo e premiando homens e mulheres que são reconhecidamente líderes em diferentes campos de atuação.

Divulgada a lista dos  galardoados aplaudi as respeitadas e reconhecidas  lideranças femininas da  Dra. Berta Cabral, presidente da Câmara Municipal de Ponta Delgada ( Prêmio de Liderança Internacional) e da Professora Maria Pacheco, Universidade de Brown (Prêmio de Liderança em Educação). Outros nomes integravam a tal lista de premiados e todos com certeza merecedores da distinção atribuída pela  PALCUS.

Foi com muitíssima satisfação que identifiquei entre os homenageados  “António Pereira Vieira Goulart” -  o  amigo Tony Goulart - ali  distinguido com a outorga do Prêmio de Liderança em Serviços Comunitários.  Lembro bem do dia que ouvi falar do Tony pela primeira vez. Na verdade, primeiro conheci o senhor António Goulart. O ano era 2002 e o lugar Casa do Povo de São Caetano, na Ilha do Pico. Era domingo do Espírito Santo e a Casa do Povo engalanada recebia toda a freguesia e mais gente de outros lados  que, no grande salão, esperavam  pela  tradicional Sopa do Espírito Santo. Um espanto! A azáfama era grande. Homens e mulheres se movimentavam em diferentes funções recebendo os convivas do grande banquete. Já na entrada deparei com centenas e imensas rosquilhas de massa sovada colocadas em açafate de vime, guarnecido por toalha branca, de renda ou linho, enfeitadas com flores do campo.

 Naquela altura eu ainda não percebia bem o que se passava num ritual de sopas. O salão decorado com simplicidade e elegância apresentava inúmeras fileiras de mesas cobertas com toalha branca, flores, uma garrafa de sumo, outra de vinho e muito pão. Entre flores, cetim encarnado, fitas, toalhas rendadas e candelabros onde velas tremulantes compunham um ar de sagrado ao bonito arranjo de um altar, coroas e bandeiras do Espírito Santo se destacavam no amplo salão. Abençoavam àquela Casa do Povo onde os devotos do Divino partilhavam a dádiva do alimento numa sentida  convivência fraterna. Meus olhos ávidos e curiosos por mais saber percorriam tudo na ânsia de registrar e não deixar escapar nada. A mini agenda estava cheia e não tinha espaço para novas anotações. O jeito foi rabiscar em guardanapos de papel as  minhas observações e informações que iam sendo passadas na simples menção de que eu estava ali como uma investigadora das tradições açorianas do Espírito Santo. Foi num desses guardanapos que anotei o nome de António Goulart um emigrante na Califórnia, nascido bem ali em São Caetano e que organizara e publicara no ano anterior o livro “The Holy Ghost Festas: A Historic Perspective of the Portuguese in California”. Afinal, fiquei sabendo que o senhor António era um emigrante muito ligado ao associativismo comunitário português na região de San Jose, no estado da Califórnia  e um empresário da construção civil muito bem sucedido. Cursara o 9º ano do Seminário nos Açores e aos 20 anos  emigrara para a América atrás do sonho – California dream, percorrendo o caminho árduo de todo emigrante na busca do seu norte seguro. De volta ao Brasil  busquei no guardanapo rabiscado o endereço anotado (da Câmara de Comércio Portuguesa em San Jose) e escrevi ao senhor solicitando informações sobre a aquisição da tão referenciada obra sobre a história do Espírito Santo na Califórnia.

Semanas depois chegou o “livrão” do Divino. Encadernado, bonito, a capa era  a imagem da própria bandeira do Espírito Santo. Muitos textos e imagens, testemunhos de toda uma história de vivências e mundividências de pertenças a mundos distintos e identificados pelo peso do hífen, que tão bem enfatiza Onésimo Teotónio de Almeida em seus ensaios sobre a experiência luso-americana (in: O Peso do Hífen,2010). Junto ao livro uma atenciosa carta de oferta e uma pergunta ao pé da página: “Como você descobriu São Caetano? Tony Goulart.”

Desse dia em diante, António Pereira Vieira Goulart passou a ser  simplesmente Tony Goulart, um açoriano dedicado a sua comunidade, assumindo e realizando inúmeros projetos sociais econômicos e culturais que contribuem para o desenvolvimento pleno de uma região que tem na sua história a presença do emigrante açoriano, aquele que “através dos tempos procurou noutras terras espaço, pão e justiça, que levava na mente a  esperança de riqueza, às  costas, sua ilha e no seu coração, o culto ao Espírito Santo.” Palavras de Manuel Duarte e que aqui cito de cor. Sua liderança inconteste em dezenas de atividades comunitárias que efectivamente participa na defesa da causa portuguesa e sua atuação como coordenador da editora Portuguese Heritage Publications da Califórnia, cuja finalidade precípua é salvaguardar e divulgar a história da presença portuguesa na Califórnia, com dezanove títulos  publicados, verdadeiros registros documentais, não deixam a menor duvida que a sua trajetória por terras da abundância foi abençoada. Sim, por tudo que tem feito em prol das comunidades o Tony Goulart é

merecedor de todas as homenagens recebidas em sua vida como recentemente nos Açores, no dia da Região, na segunda-feira do Espírito Santo ou como a que acabou de receber - “Prémio de Liderança em Serviços Comunitários,” num reconhecimento da egrégia associação luso-americana PALCUS, entidade com expressiva representatividade de portugueses em diferentes estados norte-americanos.

Enfim, o ousado sonho do jovem emigrante de São Caetano do Pico se transformou numa invejável realidade.

Parabéns Tony Goulart!”

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publicado por picodavigia2 às 18:37





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