PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
O GIMBRAS
(TEXTO ADAPTADO)
O Gimbras era um menino que vivia com o seu irmão Juvenal e não gostava nada de ir à escola. Sempre que conseguia fugir da escola escondia-se do irmão para que este não o castigasse.
Certo dia foi esconder-se em casa da Dulce Quando ela abriu a porta e o viu debaixo da mesa da cozinha, perguntou admirada:
- O fazes aqui?
- Chiu! – pediu o Gimbras. – Não fale tão alto senão o Juvenal ouve-me!
- O Juvenal? Mas aqui não há nenhum Juvenal!
- Eu também não disse que era aqui que ele estava. Mas está lá fora. E se me encontrar bate-me.
- Se tu saísses daí debaixo e me explicasses isso melhor?
- E se ele me vê?
- Só se ele fosse capaz de ver através das paredes e das portas fechadas. Ele não está aqui.
Alguns segundos depois o Gimbras saiu debaixo da mesa, resmungando:
- Nunca se sabe… Ele é capaz de tudo… No outro dia deu um murro numa tábua e partiu-a a meio.
A Dulce pode finalmente vê-lo: era um pequeno e fraquito, teria dez ou onze anos…Tinha o cabelo encaracolado, e a pele da cara era morena.
- Agora vais contar-me quem é o Juvenal, e que estás tu a fazer aqui – disse a Dulce.
- O Juvenal é o meu irmão. É com ele que vivo naquela barraca, ali. Está a ver?
- Estou a ver, estou. Estou a ver que fugiste do teu irmão…
- Quem é que aguenta? Não consigo estar na escola. Os outros rapazes andam sempre a fazer queixa de mim ao senhor professor e é sempre a mim que ele castiga. São todos uns queixinhas e depois eu é que pago as favas. E eu não faço nada!... Mal lhes dou um encosto vão logo fazer queixa ao professor.
- E é por isso que foges, para o teu irmão não te mandar para a escola?
- É claro! Ele quer que eu vá à escola todos os dias. Para quê? Para aturar aqueles palermas? Para estar sempre a levar do professor, porque sou eu que tenho sempre culpa de tudo? Raio de vida… Foi por isso que hoje não aguentei, safei-me assim que vi o Juvenal à minha espera no largo da escola, e enfiei pela primeira porta aberta que encontrei.
Adaptado de um texto de Alice Vieira, Às Dez a Porta Fecha,