PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
O LAVRADOR D'ARADA
Um dos rimances mais conhecido, declamado e até cantado na Fajã Grande, nos anos cinquenta era o “O Lavrador da Arada”. Era também cantado pelos foliões do Espírito Santo quando acompanhavam os cortejos para a igreja, para matar o gado ou para distribuir a carne ou levar as sortes. Trata-se de um belo poema que pretende mostrar aos crentes, como Jesus Cristo, tanto ama a pobreza e os pobres, que até se disfarçou de mendigo para por à prova a caridade dos homens.
O rimance rezava assim:
“Vindo o lavrador da arada
Encontrou um pobrezinho.
E o pobrezinho lhe disse:
- Leva-me no teu carrinho.
Deu-lhe a mão ao lavrador
E no seu carro o metia.
Leva-o para a sua casa,
P’rá melhor sala que tinha.
Mandou fazer-lhe a ceia,
Do melhor manjar que havia.
Sentou-o na sua mesa,
Mas o pobre não comia.
Mandou-lhe fazer a cama,
Da melhor roupa que tinha.
Por baixo, damasco roxo,
Por cima, cambraia fina.
Lá pela noite adiante
O pobrezinho gemia.
Levanta-se o lavrador
A ver o que o pobre tinha.
Encontrou-o crucificado
Numa cruz de prata fina.
- Ó, meu Deus, se eu tal soubera
Que em minha casa eu vos tinha.
Mandava fazer preparos
Do melhor que encontraria.
- Cala-te aí, lavrador,
Não fales com fantasia.
No céu te tenho guardado,
Cadeira de porta fina.
Tua mulher ao teu lado
Que também o merecia.”