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O LUGAR DA TRONQUEIRA

Quinta-feira, 04.10.18

Como era sobejamente conhecido, pelo menos por todos os fajãgrandenses de então, o nome “Tronqueira”, na Fajã Grande, não se aplicava e creio que continuará a não se aplicar exclusivamente a uma rua, a Rua da Tronqueira, cujo nome ainda hoje se mantém na topologia da freguesia mais ocidental da Europa mas também a um lugar da mesma freguesia que ficava ali, mesmo ao lado da referida rua.

O lugar da Tronqueira que incluía sobretudo terras de milho, que alternavam a cultura deste cereal, ao longo do ano, com o cultivo da batata-doce, das favas ou das forrageiras, situava-se numa enorme faixa de terreno paralelo à Ladeira e à Ladeira do Mimoio e ficava entrincheirado entre estas e a rua da Tronqueira, que muito provavelmente dele houve nome. Assim, o lugar da Tronqueira fazia fronteira, a Sul, com a Fontinha e ia até ao Porto, ao estaleiro e ao Calhau Miúdo, lá para os lados do caminho que dava para a Ribeira das Casas, Covas e Ponta e constituía uma das zonas de terrenos muito férteis e produtivos. Melhores terras de cultivo, talvez só as do Estaleiro e as do Porto.

De acordo com a Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, a palavra “tronqueira” é um termo tipicamente açoriano. Trata-se de um nome ou substantivo comum com um duplo sentido: um real e outro figurado. No sentido real a palavra tronqueira significa uma “passagem estreita ordinária onde ficam os madeiros laterais de uma portada ou cancela”. Por sua vez e no sentido figurado a mesma palavra significa “os esteiros de madeira ligados por arame utilizados na vedação ou tapume de uma a cerca onde se encontra guardado o gado, nos sítios onde não existe parede ou muro em pedra”. Muito provavelmente que o nome próprio de Tronqueira, talvez atribuído, inicialmente, apenas a um lugar da Fajã Grande e depois originando o nome da rua que lhe ficava contígua, terá a ver com um ou outro destes significados e de certo que poderá ter neles a sua origem. Daqui se pode concluir que este nome dado àquele lugar terá tido a sua origem no facto de outrora ter havido por ali alguma ou algumas “tronqueiras” ou seja alguns tapumes ou mais concretamente cercas ou currais onde se guardava o gado ou simplesmente por ser o lugar, com semelhanças às portadas ou cancelas, por onde o gado passava, nas suas deslocações para as excelentes pastagens da Ribeira das Casas, das Covas e do Vale do Linho.

Mas o importante é que o topónimo, com tantos outros, nasceu, cresceu e ficou a assinalar um dos mais ricos e belos lugares da Fajã Grande. Rico sob o ponto de vista agrícola, pois como acima referi, era local de terras férteis e muito produtivos a darem duas ou três colheitas diferentes durante um ano, terras que, como então se dizia, não precisavam de descanso; belo porque visto do Mimoio ou da Ladeira proporcionava uma ampla e verdejante planície onde os campos divididos por harmónicas e bem delineadas paredes, entrelaçados por simétricos atalhos, com um ou outro “maroiço” aqui ou além e repletas de milho, de favas, ou de trevo, formavam, juntamente com o serpentear das casas branquinhas da rua homónima, um espectáculo deslumbrante e enternecedor.

Muito bem estiveram os nossos antepassados ao dar àquele lugar e àquela rua o interessante e gracioso nome de Tronqueira.

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publicado por picodavigia2 às 00:04





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