PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
O MILAGRE DAS ROSAS
D. Isabel de Aragão nasceu em Saragoça. Era filha de D. Pedro III, e de D. Constança de Navarra. Recebeu o nome de Isabel por desejo de sua mãe em recordação de sua tia Santa Isabel da Hungria, cujas virtudes viriam a servir-lhe de modelo e desde muito nova começou a mostrar gosto pela meditação, rezas e jejum, não a atraindo os divertimentos comuns das raparigas da sua idade. Isabel não gostava de música, passeios, nem jóias e enfeites, vestia-se sempre com simplicidade.
D. Isabel tornara-se conhecida em beleza, discrição e santidades. As suas virtudes levaram muitos príncipes a apresentarem-se a D. Pedro como pretendentes à mão da sua admirável filha. Os pais escolheram D. Dinis, herdeiro do trono de Portugal, que era também o mais dotado de qualidades. O casamento realizou-se na vila de Trancoso, no dia de S. João Baptista de 1282. Nos primeiros tempos de casada acompanhava o marido nas suas deslocações pelo país e com a sua bondade conquistou a simpatia do povo. Dava dotes a raparigas pobres e educava os filhos de cavaleiros sem fortuna. Tornou-se uma mulher de grande piedade conservando em sua vida a prática da oração e a meditação da Palavra de Deus. Buscou sempre a reconciliação e a paz entre as pessoas, as famílias e até entre nações. D. Isabel costumava dizer “Deus tornou-me rainha para me dar meios de fazer esmolas.” Sempre que saía do paço era seguida por pobres e andrajosos a quem sempre ajudava.
Após a morte de seu marido, entregou-se inteiramente às obras assistenciais que havia fundado, fez-se franciscana, após ter deposto a coroa real no santuário de São Tiago de Compostela e haver dado seus bens pessoais aos necessitados. Fixou residência em Coimbra, junto ao convento de Santa Clara, nos Paços de Santa Ana, de que faria doação ao convento. Mandou edificar o hospital de Coimbra junto à sua residência, o de Santarém e o de Leiria para receber enjeitados. D. Isabel faleceu a 4 de Julho de 1336, deixando em testamento largos legados a hospitais e conventos.
Viveu uma profunda caridade sendo sempre sensível às necessidades dos pobres e excluídos. Viveu o resto da vida em pobreza voluntária, dedicada aos exercícios de piedade e de mortificações. A quem lhe recomendava um pouco de moderação nas penitências quotidianas que se impunha, respondia: "Onde, se não na corte, são mais necessárias as mortificações? Aqui os perigos são maiores."O povo criou à sua volta uma lenda de santidade, atribuindo-lhe diversos milagres e a santa foi canonizada em 1625.
Foram atribuídos muitos milagres, como a cura da sua dama de companhia e de diversos leprosos. Diz-se também que fez com que uma pobre criança cega começasse a ver e que curou numa só noite os graves ferimentos de um criado. No entanto o mais conhecido é o milagre das rosas. Reza a lenda que, durante o cerco de Lisboa, D. Isabel estava a distribuir moedas de prata e pão para socorrer os pobres e necessitados da zona de Alvalade, quando o marido apareceu. O rei perguntou-lhe: “O que levais aí, Senhora?” Ao que ela, com receio de desgostar a D. Dinis, e, como que inspirada pelo céu respondeu: “Levo rosas, senhor...” E, abrindo o manto, perante o olhar atónito do rei, não se viram nem moedas nem pão, mas sim rosas encarnadas e frescas.
(Memórias do livro da 4ª classe)