PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
O NAUFRÁGIO DO GREFFIN
Amanhecia, desassossegado e intranquilo, o dia 26 de Fevereiro de 1866. Uma manhã invernosa e o mar a parecer que queria comer gente, de tão bravo que estavaA maioria dos habitantes da nova paróquia da Fajã Grande, como que ainda comemorava a euforia da sua elevação a paróquia e a freguesia, separando-se, definitivamente, da paróquia da Senhora do Remédios e da freguesia da Fajãzinha, por alvará do bispo de Angra, D. Frei Estêvão de Jesus Maria, datado de 20 de Junho de 1861.
Alvoroçados com silvos estridentes de uma embarcação em apuros, os habitantes levantara-se, sobressaltados e correram em direcção ao mar. Lá para os lados do Areal, entre a ponta da Coalheira e o Redondo, como se previra, estava naufragada uma embarcação. Tratava-se de um patacho de nome Greffin, um barco à vela, de dois mastros, sendo, a vela de proa redonda e a de ré do tipo latina, muito utilizado agora nas viagens de transporte de produtos e mercadorias entre a América e a Europa e que começara a ser utilizado no final do século XVI, altura em que foram construídos os primeiros exemplares. Com um deslocamento variando entre 40 e 100 toneladas, o patacho era utilizado para o transporte de cargas e mercadorias. Fora utilizado, principalmente, pela Armada Espanhola, nos séculos XV, XVI, XVII e XVIIII, como navio de guerra, para a protecção e monitoramento dos territórios do império espanhol no exterior. Pelo seu pouco peso e elevada velocidade de movimento foi utilizado, também, por piratas espanhóis e holandeses para atacar os navios comerciais.
Agora um exemplar, com capacidade para transportar cerca de 98 toneladas, estava ali a terminar os seus dias. Ligava a América à Europa carregado de fardos de algodão.
Com a ajuda da população local, que foram lançando de terra, cordas, cabos, pranchas e tabuões, todos os tripulantes se salvaram, assim como grande parte do carregamento, não havendo feridos.
Durante alguns dias os tripulantes foram alojados em várias casas da freguesia, sendo depois enviados para Santa Cruz, onde aguardaram embarque para a Inglaterra. O algodão recuperado foi vendido na ilha das Flores a 450 reis o quilo.