PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
O PADRE HORÁCIO NORONHA
Horácio Manuel da Silveira Noronha nasceu a 30 de Abril de 1934, na freguesia do Topo, ilha de São Jorge, sendo seus pais Manuel Joaquim Noronha e Emília da Silveira Brasil. Como a maioria das crianças açorianas, na altura, fez os estudos primários na sua freguesia, após os quais partiu para Angra, matriculando-se no Seminário Diocesano, em setembro de 1946, onde se formou e completou o curso de teologia, tendo sido ordenado presbítero a 15 de julho de 1958. Nesse mesmo ano foi colocado como professor e prefeito dos médios, no Seminário de Angra, substituindo o padre Jacinto da Costa Almeida que durante décadas ocupara aquele cargo.
Quando cheguei ao Seminário de Angra, frequentando a prefeitura dos miúdos, o padre Horácio ainda era prefeito dos médios e, além disso, não o tive como professor, nesse ano, tendo, por isso, privado muito pouco com ele. No ano seguinte, porém, foi nomeado Diretor Espiritual dos miúdos, sendo também meu professor de História Universal, nesse ano e no seguinte.
Foi então que pude observar, compreender e sentir a simplicidade, a bondade, a humildade e a grandeza de alma deste homem. Senhor de um diálogo simples, genuíno e marcante, dono de um sorriso dócil e duma serenidade conciliadora, o padre Horácio atraía e cativava os que com ele conviviam, aconselhava com discernimento os que demandavam os seus conselhos, encaminhava-os com ternura e bondade, ensinava com rigor e persuasão.
Do Seminário transitou para a paróquia de Santa Luzia, acompanhando e orientando grupos de Ação Católica Operária. Depois de um percurso pelos padres do Prado, como padre operário, onde aprendeu, segundo ele próprio confessa “que o principal da minha vida de padre se resume nos quatro verbos tão caros ao P. Chevrier: conhecer, amar, seguir e anunciar Jesus Cristo” fixou-se na diocese de Setúbal, onde foi pároco na Quinta do Conde, em Nossa Senhora da Conceição, no Pinhal Novo e no Pragal, sendo, também diretor espiritual do seminário. Atualmente, para além de pároco do Pragal, é Vigário Forâneo da Vigaria de Almada, Membro do Conselho de Presbíteros, Membro do Colégio de Consultores e Presidente da Comissão de Consulta de Apoio ao Bispo na Gestão do Fundo do Clero da diocese. Acrescente-se que a vigaria de Almada compreende as paróquias de Almada, Cova da Piedade, Cacilhas, Laranjeiro – Feijó e Pragal.
Passados muitos anos, reencontrei-o no Mucifal há alguns anos e voltei a encontrá-lo no passado domingo, partilhando com ele alguns momentos de conversa. Mantém a mesma simplicidade, a mesma alegria de conversar, a mesma delicadeza no trato com todos, os mesmos dons de saber ouvir e de se entusiasmar mais com os sucessos alheios do que com os próprios. Apesar dos seus 80 anos, mantem uma jovialidade invejável, uma alegria contagiante, uma comunicabilidade atraente, uma áurea de juventude surpreendente. Juntamente com Monsenhor José Nunes, este professor no Seminário de Angra, é o mais idoso sacerdote açoriano em atividade paroquial.
Não resisto a transcrever aqui, o interessantíssimo testemunho de um colega e amigo seu, Fernando Castro Martins, escrito por altura da celebração das suas bodas de ouro sacerdotais, sob o título: - Padre Horácio Noronha - Um Nobre ao Serviço dos Pobres e Oprimidos:
“Como eu gosto de pessoas assim: eruditos dos livros, estudam eternamente na escola dos pobres. Sabem latim e grego, conhecem as mais remotas etimologias das palavras caras, e, ainda assim, sabem falar com os excluídos de um modo que estes vêem mesmo do que lhes falam.
Estes homens não gritam lá de cima a dizer libertai-vos; e muito menos a dizer tende paciência. São um fermento, dando qualidade e esperança à massa dos espoliados; são estrelas de luz, sinalizando caminhos.
Ontem estive ao pé de um homem desta dimensão. Ao todo seríamos duzentos: admiradores, discípulos, companheiros. Fazia cinquenta anos de Padre. Fomos todos ter com ele para celebrar. Não levámos presentes, porque os não julgávamos necessários, não levámos palavras caras porque as não tínhamos. Estávamos com ele. Estávamos presentes. Éramos o seu presente.
Foi um dia inteirinho de celebração que culminou com uma celebração maior, a da partilha do Pão e do Vinho, e todos saímos dali saciados e fortalecidos. Nos olhos dos presentes - e o meu sentimento quero aqui dize-lo - estava uma expressão coletiva de que a Igreja pode precisar de padres, mas do que ela precisa mesmo é de padres deste modo.
Peço a sua bênção, Padre Horácio de Noronha.”