PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
O PICO EM FEVEREIRO
O Pico, em Fevereiro, pese embora assolado por ventos e tempestades, fustigado por chuvas e intempéries ou assediado por nevoeiros neblinas, continua detentor da uma beleza e originalidade ímpares, duma graça e singeleza endémicas, e de uma excêntrica e indomável singularidade. A sua imponente e vulcânica Montanha, erguendo-se altiva e altaneira sobre lavas e fumarolas, ora se esconde bem lá no alto, por cima das nuvens, ora se cobre da caramelo ou se reveste da sua mais enigmática singularidade – de neve. O mar, na sua altivez e transcendência, revolta-se indignado e altivo, rugindo contra os baixios magmáticos, como que impedindo barcos e pescadores de se arrastarem sobre pedregulho e tiras de madeira, obrigando-os a permanecerem varados, no cais. A terra, entrelaçada entre maroiços e estreitas canadas, continua ávida de enxadas e aluviões e os campos, repletos de erva da casta, enchem-se de bovinos à espera que lhe mudem a cordada. As vinhas desvanecem mas não morrem e aguardam, expectantes, a tesoura de poda. No Pico, em Fevereiro ainda se adormece embalado pelo canto dos pássaros e acordamos com o corococó dos galos. A escuridão vai-se desvanecendo muito lentamente, ouve-se o arrastar de cadeiras em casa de um vizinho, os “bons-dias” dos que se levantam mais cedo. Finalmente o Sol! Mas esse sim, é que umas vezes nem aparece outras demora a aparecer e mesmo quando o faz, é para logo desaparecer, não fosse ele o “sol de pouca dura”.
Mas afinal, no Pico em Fevereiro, com sol ou com neve, com neblinas ou mar agitado, com isto ou com aquilo, ainda se mata o porco, ainda se amarram as vacas nos campos, ainda se podam as vinhas, ainda se apanham sargos e chicharros, ainda se coze bolo no tijolo, ainda se faz caldo de peixe, ainda se bebe bagaço com groselha, ainda se conservam os maroiços, ainda se arrastam os barcos nos varadouros, ainda se baila a chamarrita, ainda se desperta com o cantar dos galos, numa palavra, no Pico, em Fevereiro, ainda se está no Pico, embora este se modernize cada vez mais, agora aureolado com os recentes galardões de “património mundial da humanidade”, obtido pela sua paisagem vulcânica e de vinha e “maravilha natural de Portugal” conquistado pelo imponência e singularidade da sua montanha