PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
O PRIMEIRO NAUFRÁGIO NA FAJÃ GRANDE
O primeiro naufrágio acontecido na Fajã Grande e de que há registo, porque naturalmente muitos houve antes e dos quais muito pouco ou nada se sabe, uma vez que dos mesmos não há memória, aconteceu a 5 de Setembro do ano de 1779. Tratou-se do naufrágio de um pequeno barco que, muito provavelmente, terá efectuado uma viagem da Fajã Grande a Santa Cruz, procedimento muito normal na altura, uma vez que as deslocações por terra eram quase impossíveis. Não havia caminhos e a rocha, os grotões e as ribeiras eram obstáculos quase intransponíveis. Além disso a possibilidade de qualquer transeunte se perder entre nevoeiros e temporais era muito provável. Assim o recurso ao mar para as viagens às freguesias mais distantes, deveria ser muito frequente, sobretudo quando o destino era Santa Cruz, Lajes ou Ponta Delgada. No acidente, que se terá verificado no regresso da viagem, já por fora da Fajã Grande, morreram três pessoas, não se sabendo se a embarcação traria mais tripulantes ou passageiros, o que seria bastante provável.
Foram três as vítimas deste naufrágio, todas naturais e residentes no então lugar da Fajã Grande, pertencente à freguesia das Fajãs. O mais velho chamava-se Cristóvão Valadão de 58 anos. Era filho de António Valadão e de Maria Fraga e casado com Francisca Rodrigues, filha de José Valadão e Isabel Rodrigues. A segunda vítima foi José Mateus de 32 anos, que muito provavelmente seria solteiro. Relativamente à terceira vítima, sabe-se apenas que talvez se tratasse de um jovem ou criança, que se chamava António e que era filho de Domingos de Freitas da Sumada ou da Assomada e de Maria de Freitas, contando estes dados no registo do respectivo registo de óbitos da Paróquia de Nossa Senhora dos Remédios. No entanto o pai, que casou nesta paróquia, em 5 de Maio de 1778, ou seja um ano antes do desastre e da morte do filho, com Delfina dos Santos, natural da freguesia dos Cedros e viúva de João Pimentel. Trata-se, no entanto do terceiro casamento de Domingos de Freitas, uma vez que já teria casado e enviuvado, anteriormente e por duas vezes. No entanto, como, curiosamente, uma e outra das mulheres com quem casou, nas primeiras e segundas bodas, tinham o mesmo nome, Maria Freitas, não se sabe qual delas seria a mãe do infortunado António, falecido neste trágico acidente. Além disso, não consta que Domingos de Freitas da Assomada tenha realizado os seus dois primeiros consórcios na paróquia onde residia, ou seja a das Fajãs.