PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
O PRIMEIRO PÁROCO DA FAJÃ GRANDE
Por documento de 4 de Abril e 1861, de El-Rei D. Luiz, foi decretada a autorização de que se proceda à desanexação da paróquia da Fajãzinha, das povoações da Fajã Grande, Ponta e Cuada que assim passarão a constituir uma freguesia independente e separada, servindo de igreja paroquial a que já existia em substituição da antiga ermida, também ele dedicada a São José. A ereção da nova paróquia foi formalizada no mesmo ano, a 20 de Junho, por Alvará de Dom Frei Estevam de Jesus Maria. Bispo de Angra.
Nessa altura o capelão da ermida era o padre António José de Freitas, cargo que exercia desde 1848, sucedendo a Manuel José de Freitas, muito provavelmente seu tio.
António José de Freitas nasceu na Fajã Grande em 14 de Agosto de 1808. Era filho do alferes Inácio José de Freitas e de sua mulher Maria de Jesus Ter-se-á ordenado presbítero em 1841, ou alguns anos antes, uma vez que nesse ano já era reitor na Lomba, Em 1848 transitou para a Fajã Grande, como capelão da ermida ali existente, funcionando como uma espécie de curato, pertencente à paróquia das Fajãs, com sede na Fajãzinha, tendo como igreja paroquial, a igreja de Nossa Senhora dos Remédios. Colocado na sua terra natal, ali permaneceu até 1851. Nessa altura foi transferido para o Mosteiro, exercendo aí o múnus sacerdotal até 1958, altura em que regressou à Fajã Grande, novamente como capelão da ermida de São José, tornando-se, assim, em 1861, com 53 anos de idade, o primeiro pároco desta freguesia nova freguesia. A ele coube a organização da nova paróquia, sobretudo na parte administrativa e de arquivo paroquial. São da sua lavra os termos dos primeiros registos de batismo, casamentos e óbitos que revelam uma excelente caligrafia e uma perfeita organização. O padre António José de Freitas faleceu na Fajã Grande, a 8 de Março de 1881, com 73 anos. Nessa altura, porém já era manente, pois fora substituído, em 1976, pelo padre José Francisco de Moraes natural da Prainha do Norte, ilha do Pico e que paroquiou a Fajã, como segundo pároco, apenas durante 4 anos, uma vez que em 1881, ano da morte do padre António José de Freitas, o pároco já era o padre Joaquim Ferreira de Campos.
Reza assim o registo do seu óbito: “Aos dois dias do mês de Março, do ano de mil oitocentos e oitenta e um, às onze e meia horas da noite, na casa número dezassete da Rua Direita, desta freguesia de São José da Fajã Grande, concelho da vila das Lajes, ilha das Flores, diocese d’Angra, faleceu, não tendo recebido os sacramentos da Santa Madre Igreja, um indivíduo do sexo feminino, por nome António José de Freitas de idade de setenta e três anos, Vigário próprio desta mesma freguesia, e dela natural e morador, filho legítimo de Inácio José de Freitas, proprietário e de ocupação doméstica, ambos naturais desta já referida freguesia, o qual fez testamento, não deixando filhos e foi sepultado no cemitério público. E para constar lavrei em duplicado este assento que assino. Declaro que leva a entrelinha que diz “de Jesus”. Era ut supra. O Vigário Joaquim Ferreira Campos.”
Como se depreende do registo terá morrido de ataque cardíaco uma vez que, estranhamente, não recebeu os últimos sacramentos, o que era pouco vulgar, naqueles tempos recuados. Deste registo, também, parece poder concluir-se que José António de Freitas permaneceu como vigário da Fajã Grande, sendo Ferreira Campos, até esta data, seu coadjutor. Aliás é assim que assina os registos, até ao da morte de António José de Freitas, o primeiro que assina como “vigário”.