PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
O SAL
O sal teve, desde sempre, uma importância primordial na vida da população da Fajã Grande. Sem outros meios de conservar os alimentos, até à década de sessenta, altura em que chegou a luz à freguesia e, consequentemente, os primeiros frigoríficos, a única forma de conservar os alimentos, sobretudo a carne de porco e o peixe, era salgando-os. Apenas os bifes de lombo e a linguiça eram conservados debaixo de banha, mas mesmo neste caso, o sal era necessário.
Essa a razão por que na década de cinquenta era necessário comprar sal, bastante sal e ter sempre uma reserva do mesmo, em casa, À necessidade de conservar alguns produtos ao longo do ano, juntou-se o hábito de cozinhar os alimentos com algum sal e, nalguns casos, abusava-se deste, o que, obviamente, prejudicava a saúde. A população da Fajã Grande, na década de cinquenta e anteriores, era dependente do sal e, por vezes, abdicava-se de outros gastos mais importantes, para se poder comprar o sal.
Sabe-se que em tempos antigos em que na ilha das Flores rareavam os produtos importados se adquiria o sal aos navios que ali passavam para a pesca do bacalhau, que ali passavam para se abastecer de água, víveres e recolher marinheiros clandestinos. O sal funcionava então como moeda de troca, uma vez que a população, a troco de produtos frescos, nomeadamente carne, recebia sal e de dinheiro.
A falta de sal na freguesia, em tempos idos, era tanta, que naufragando nos laredos do baixio, um barco carregado de açúcar, a população, depois de o recolher, utilizou-o como se fosse sal.