PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
OLHA A MALA
Olha a Mala, Olha a Mala era talvez uma das cantigas mais cantada por toda a gente na Fajã Grande. Homens, mulheres, rapazes e raparigas, novos e velhos toda a gente a cantava. Fora a chegada da rádio à freguesia, na década de cinquenta que a trouxera. Ficou, pegou e quase marcou uma época. Trata-se de um fado cantado na altura por Celeste Rodrigues, com letra e música de Manuel Casimiro. A canção inicialmente parece ter sido proibida pela censura, talvez por se cuidar que existiria alguma contestação ao regime salazarista nas entrelinhas, mas acabou por acabou passar na rádio com uma frequência impressionante. Como era daquelas canções que se fixam na memória de quem as ouvia com facilidade, passou a fazer parte da vida das pessoas. A Fajã Grande a saborear, na altura, os primórdios da chegada da rádio, não foi exceção à onda que avassalou o país.
A letra era a seguinte:
Caiu um hidroavião
Eu não sei de onde é que ele é,
Não trazia ninguém dentro
Foi parar à Nazaré.
Olha a mala olha a mala,
Olha a malinha de mão.
Não é tua nem é minha
É do nosso hidroavião
E o nosso hidroavião
É da madeira mais fina
Foi cair a Nazaré
Por falta de gasolina
Eu um dia fui à praia,
De manhã de manhãzinha,
Não vi pescador nem peixe
Só lá vi uma malinha.
De quem é esta malinha,
Que um dia deu à costa?
Se ela veio aqui parar,
Se cá veio é porque gosta.