PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
OS RICOS E OS POBRES
(TEXTO RETIRADO DO ANTOGO LIVRO DA 4ª CLASSE – DÉCADA DE 50)
Ia seguindo descalço, de cabaz na mão, um menino por um caminho além.
Encontrou uma menina, bem vestida, mais ao menos da sua idade, que lhe perguntou:
- Aonde vais tu?
- Vou levar o jantar ao meu pai que trabalha num moinho.
- Oh!... Então o teu pai é pobre, trabalha? – Observou a menina, desdenhosamente.
- Trabalha sim! E o teu? – Volveu-lhe o menino com destreza.
- O meu é rico, não precisa de trabalhar. Que triste sorte seria a dos pobres se todos os ricos morressem! – Disse a menina com ares de desprezo.
- Oh!... E julgas tu que seria mais alegre a dos ricos se todos os pobres morressem. – Replicou o menino, muito cheio de si mesmo. E continuou:
- Os ricos podem comer bons jantares, mas não os abem cozinhar; podem viver em belas casas, mas não as sabem construir. Eu não sei quem precisa mais: se são os pobres dos ricos se os ricos dos pobres… Precisamos uns dos outros. E olha: é mais lindo ver um pobre vergado sobre o cabo de uma enxada a ganhar o pão que come do que ver um rico de costas direitas, a comer o que os outros produzem.
Não é o trabalho que avilta, o que avilta é a ociosidade.