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PAPAS QUE FORAM FORÇADOS A ABDICAR

Segunda-feira, 27.01.14

Para além dos papas que abdicaram livremente e por iniciativa própria, embora fazendo-o por razões diversas, outros chefes da Cristandade foram forçados a abandonar a cátedra de São Pedro, por motivos alheios à sua própria vontade, sendo que, nalguns casos, as pressões foram tão violentas e tão execráveis que culminaram no assassinato do Sumo Pontífice. Desta lista histórica, obviamente, estão excluídos os papas mártires, dos primeiros séculos do cristianismo.

O Papa Eusébio foi eleito em 309, permanecendo na cátedra de Pedro apenas quatro meses, em consequências das perturbações e actos de violência na Igreja, devido a uma rumorosa disputa sobre a readmissão dos apóstatas, Eusébio foi banido pelo imperador Magêncio, que governava Roma, na altura. Foi exilado para a Sicília onde morreu em 310. A Igreja venera-o como santo e a sua festa é no dia 26 de Setembro. Sucedeu-lhe Melquíades, um papa africano de origem berbere, eleito após o imperador Maxêncio ter exilado Eusébio. Dois anos depois, Constantino derrotou Maxêncio, assumiu o governo de Roma e garantiu a liberdade religiosa aos cristãos.

João I, eleito papa em 523, ao ser enviado a Constantinopla, em 525, a fim de tentar obter tolerância da parte do imperador Justiniano para os árabes, foi aprisionado por Teodorico, o Grande, que o obrigou a abdicar do papado, colocando no seu lugar Félix IV, que, antes da sua morte, reuniu vários clérigos e importantes cidadãos romanos e, solenemente, elegeu seu sucessor, Bonifácio II, evitando assim as ameaças consubstanciadas na eleição do antipapa Dióscoro.

No mesmo século João III, eleito papa em 561, foi deposto e forçado a abdicar pelo general Narses, uma vez que, durante o seu pontificado os Lombardos invadiram a Itália e Narses tornou-se governador de Roma, entrando em rota de colisão com João III. Devido à guerra, durante mais de um ano, a Sé de Roma esteve vacante, sendo então eleito Bento I.

No século seguinte, o papa Martinho I, eleito em 649, condenou e afastou os escritos do imperador bizantino, Constante II, que, de imediato, o mandou aprisionar e levar cativo para Constantinopla, sendo julgado, considerado infame e condenado à morte. No entanto, ao ser forçado a renunciar, teve a pena capital suspensa, mas foi encarcerado, submetido a maus-tratos e desterrado para Quersoneso (actual Ucrânia), onde faleceu.

João VIII, eleito em 872, morreu envenenado, dez anos depois. Embora não descuidando os assuntos espirituais da igreja, João VIII assumiu-se mais como chefe militar e líder politico do que do pai espiritual da cristandade. Os seus exércitos defenderam a Itália contra os sarracenos, derrotando-os em Terracina. Em 875, coroou imperador o rei dos francos ocidentais, Carlos o Calvo, e à morte deste, coroou imperador, o rei dos francos orientais, Carlos III o Gordo. Mas depois da coroação, o imperador não manteve a ajuda que lhe prometera, pelo que o papa foi derrotado pelos árabes e forçado a abdicar. Em sua substituição foi eleito, precisamente no dia da sua morte, Marinho I.

Depois da morte de Bonifácio VI, em 896, algo de muito estranho e pouco ortodoxo aconteceu no Vaticano. O partido dos duques de Espoleto, a seu belo prazer, colocou no trono pontifício o Estêvão VI. Roma passou para a chefia de Lamberto de Espoleto e o novo papa foi obrigado a reconhecer Lamberto como único imperador e a reprovar e anular todos os actos do Papa Formoso, antecessor de Bonifácio VI, que coroara Arnolfo, imperador da Alemanha. Abusando da subserviência de Estêvão VI, os partidários de Lamberto instituíram o tribunal do "Sínodo do Cadáver". O cadáver mumificado do papa Formoso foi retirado, sacrilegamente, do seu ataúde, sentado num trono e acusado do grande crime de haver aceite ter sido Papa. Intimado a se defender, e logicamente nada respondendo por ser um mero cadáver, foi julgado criminoso, despojado das insígnias pontificais, sendo-lhe cortados os dedos da mão que abençoara as multidões. O cadáver foi depois lançado ao Tibre, donde foi retirado pelo povo, que lhe guardava enorme carinho e admiração e lhe deu sepultura. Estêvão VII foi aprisionado, obrigado a abdicar, acabando por ser linchado.

Leão V foi eleito papa em 903 e assassinado, dois meses após a eleição, pela família romana dos tusculanos, os mesmos que mataram o antipapa Cristóvão. A causa da sua morte permanece obscura e pouco se sabe, também, sobre a sua vida e acerca do seu curto pontificado. Foi preso por motivos desconhecidos e há uma lenda atribuindo a sua morte a Sérgio III, seu sucessor e, supostamente, pai do papa João XI. Muitos historiadores, no entanto cuidam que é mais provável Leão V ter morrido de causas naturais, na própria prisão.

O Papa João X foi eleito em 914. O seu pontificado foi profundamente influenciado por Alberico I de Spoleto, conde de Túsculo e esposo da bela princesa toscana, Marózia, que dominava Roma. João X foi um papa enérgico e independente, criou grandes inimigos, acabando por ser preso pelos partidários de Marózia, cujos planos ambiciosos condenara. Foi obrigado a abdicar do papado, morrendo na prisão, um ano depois, ao que consta de fome ou de ansiedade.

Pouco se sabe do papado de Estevão VII que terá sido eleito em 928 ou 929. A sua eleição foi imposta pelos condes de Túscolo, graças às suas intrigas contra Marózia, então senatriz de Roma. A validade do seu pontificado é dúbia, pois tal como o seu antecessor, Leão VI, foi eleito quando o Papa João X ainda era vivo mas estava preso. Consideram os historiadores que, se a retirada do papado a João X for inválida, Leão VI e Estêvão VII não foram papas legitimados. Ambos tiveram pontificados curtos e sem nenhuma informação relevante. Estevão VII, possivelmente, morreu assassinado em 931, pelo filho de Marózia, Alberico, que também assassinou a própria mãe.

Após a morte de Estevão VII, foi eleito João XI, com apenas 21 anos de idade, filho de Alberico I de Espeleto e de Marózia, através de intrigas da mãe, ficando completamente sob a sua influência, sob um governo tirano. Depois de várias lutas, um de seus irmãos tornou-se governador de Roma, obrigando João XI a refugiar-se num convento e a renunciar ao cargo.

Bento VI foi eleito papa em 973. Pouco se sabe do seu pontificado, excepto que confirmou os privilégios de várias igrejas e mosteiros e que, um ano após à sua eleição, foi preso, obrigado a abdicar e assassinado por estrangulamento.

Numa época perturbada, com dois antipapas à porfia, João XIV, foi eleito em 983. Após a morte do imperador Oto que o colocara no trono, os nobres de Roma aproveitaram o clima de insurreição e revoltaram-se contra o pontífice, sob o pretexto de que este não era romano. Foi o próprio antipapa Bonifácio VII que, aproveitando o contexto de agitação que se vivia em Roma, o prendeu no Castelo de Santo Ângelo, onde veio a morrer envenenado.

Finalmente, João XXI eleito em 1276 e o único papa português, até ao presente. João XXI não abdicou voluntariamente, nem foi forçado a fazê-lo por imposição de ninguém, mas simplesmente porque foi vítima de um acidente que lhe provocou a morte. Foi homem de grande sabedoria, professor, médico, cientista, pároco em Mafra e arcebispo de Braga e, nessa qualidade, participou no XIV Concílio Ecuménico de Lião, sendo, nessa altura elevado a cardeal pelo papa Gregório X. A sua eleição papal, após a morte do Papa Adriano V, decorre num período muito perturbado por tensões políticas e religiosas. O acidente que o vitimou e que, precocemente o afastou da cátedra de Pedro, ocorreu durante as obras de restauro do palácio onde vivia, em Viterbo.

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publicado por picodavigia2 às 18:01





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