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PASSEIOS À DOCA E O ACIDENTE DO ARNEL

Sábado, 08.03.14

De todos os nossos passeios realizados aos domingos e quintas de tarde, alguns dos que mais gostávamos eram os que tinham como destino a doca. É que para além de observarmos a grandiosidade da cidade voltada para o mar, com os altos prédios da avenida a espelharem-se nas águas calmas e límpidas do Atlântico, tínhamos a oportunidade de ver e observar de perto o Clube Naval, a abarrotar de caiaques e toda a espécie, de pequenas embarcações de recreio e de barcos de pesca. Mas o que mais nos fascinava era o enorme dorso negro daquele pontão a prolongar-se pelo mar fora, sempre pejado de todo o tipo de embarcações, desde os iates de recreio que demandavam os Açores, com bandeiras de variadíssimos países, aos enormes e abrutalhados cargueiros, aos gigantescos paquetes e cruzeiros, muitos deles também estrangeiros, carregados de turistas já de idade avançada, de calções e camisolas exóticas, que visitavam a ilha do Arcanjo, fascinados pela sua beleza e pelo seu agradável clima e ainda as duas patrulhas de guerra ali habitualmente ancoradas e até, de vez em quando, um ou outro submarino. Também alguns dias podíamos observar, com saudade e nostalgia os navios que demandavam ou regressavam das ilhas, com destaque para o Carvalho Araújo e para o Cedros, embora este escalonasse, na altura, apenas as ilhas do grupo central.

Meses antes havíamos sido atordoados com o trágico acidente, em Santa Maria, do navio que fazia parceria com o Cedros, nas carreiras entre as ilhas e que com ele também alternava as viagens a Lisboa, o Arnel. A notícia do desastre caiu em Ponta Delgada como uma bomba e espalhou-se rápida e célere, sendo de imediato enviados para aquela ilha os reforços e os apoios disponíveis que, infelizmente, quer porque fossem parcos quer porque tardassem em chegar, não impediram que morressem muitos passageiros. Auxiliaram e valeram-nos, felizmente, os americanos, que, com os seus helicópteros sediados na Base das Lajes, resgataram uma boa parte dos passageiros O Arnel tinha características, tamanho e capacidade semelhantes ao Cedros e estava preparado para transportar cerca de 150 passageiros, disponibilizando de 25 tripulantes. Na viagem fatídica, o navio transportava mais de cento e vinte pessoas, muitos das quais tinham embarcado, horas antes, na Vila do Porto, mas eram naturais de São Miguel. O navio ter-se-á aproximado demasiado da costa a norte da ilha, sendo esse descuido fatal. Alta madrugada encalhava nos escolhos da ponta do Anjo, abrindo um rombo fatídico, junto à casa das máquinas, o qual lhe paralisou, de imediato, o motor e o deixou totalmente às escuras, uma vez que a corrente eléctrica de bordo, dependia, exclusivamente do motor. Em plena noite, sem luz alguma, com o mar a invadir o navio, gerou-se o pânico e a confusão entre os passageiros, o que provocou o caos e o descalabro quase total. Dizia-se que a pedido dos passageiros o Capitão José Rodrigues Bernardes, velho e experimentado marinheiro, autorizara a descida de uma baleeira, onde entraram algumas pessoas para irem a terra e pedir socorros. No entanto a baleira terá virado, chegando a terra apenas três tripulantes. Infelizmente, quando conseguiram pedir socorro, já muito tempo decorrera, sendo impossível, evitar de todo a tragédia.

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publicado por picodavigia2 às 17:54





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