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PESCA DO CHICHARRO EM SÃO CAETANO

Quarta-feira, 26.03.14

Encastoada entre o mar e a montanha, edificada nomeio de encostas arenosas e escarpadas, rodeada por terrenos pedregosos e pouco férteis, a freguesia de São Caetano, cedo se voltou para o mar, procurando nele a abundância que escasseava em terra. A extensa costa de que a freguesia desfruta, a enorme baia em que se localiza e a grande variedade e abundância de espécies de peixes existentes no mar que a circunda fizeram com que, grande parte dos seus habitantes fizesse da pesca a principal fonte de rendimento, assumindo-a como profissão, tornando-se pescadores destemidos valorosos, exímios e competentes.

Mas foi a pesca do chicharro que, desde os tempos mais recuados, teve mais relevo na economia das gentes de São Caetano, sobretudo por se tratar de uma pesca simples e sem necessidade de recursos muito dispendiosos. Esta pesca era feita nos chamados barcos de “boca-aberta”, muitos dos quais construídos na própria freguesia. Tratava-se de pequenos embarcações, movidas a remos e que eram de dois tipos: os barcos de duas de proas, maiores e mais robustos e as lanchinhas que se distinguiam dos barcos não só por serem mais pequenas mas também porque eram traçadas à ré. Para além do leme e dos quatro remos, à direita o “dente da ré” e o “de proa” e à esquerda o “dente d’avante” e o “da boga”, cada embarcação ainda possuía o “enchelavar”, constituído por um arco feito com varas de “araçaleiro” que prendia um saco de rede e, ainda, de uma luz, de construção artesanal, alimentada com azeite de toninha ou de albafar, colocada na borda da embarcação, a fim de cegar o chicharro, facilitando a sua captura dentro da rede, embora tisnando, exageradamente, o marinheiro que a segurava. Mais recentemente recorria-se ao uso da “stilena”, que por vezes, quando o dono da embarcação a não possuía, era alugada.

O peixe, inicialmente, era engodado com uma mistura de batata-doce ou branca ou abóbora, com os primeiros chicharros apanhados. Nas embarcações maiores o “enchelavar” era preso e suspenso na água com o “pau da tralha”, cujo objectivo era rentabilizar o processo de pesca.

Chegados a terra, o peixe era dividido em soldadas, sendo uma para o mestre, uma para cada um dos marinheiros, uma para a embarcação e outra para a luz, sendo também retirado o dízimo, cujo dinheiro resultante da venda era entregue ao guarda-fiscal, então, existente na freguesia.

Ao ter conhecimento da chegada do barco, muita gente acorria ao porto. Uns pretendiam comprar o peixe, outros, simplesmente, ajudar a varar o barco, sendo, neste caso contemplados com uma “varagem” – uma pequena quantidade de peixe. O chicharro era vendido em latas quadradas, com cerca de 20 litros, o equivalente a 15 kilos, a 3 4 ou 5 escudos cada.

A pesca ao chicharro foi a que maior expressão teve em São Caetano e era a que dava mais rendimento às famílias. Os barcos chegavam ao porto, descarregavam e os pescadores iam vender o peixe, em carros de bois, em burros e, na maioria das vezes às costas dentro de canastras ou das próprias latas. Também havia pescadores que vinham de noite com a sua carroça para comprar o charro no porto e irem vendê-lo para outras freguesias.

Em Outubro e Novembro a compra do charro aumentava substancialmente, com o objectivo de o salgar para o Inverno, altura em que o pescado fresco rareava..

 

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publicado por picodavigia2 às 09:13





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