PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
QUE FAZEIS AÍ, SOLDADO
Poema oral, recitado e cantado, antigamente, na Fajã Grande e recolhido por Pedro da Silveira, em 1944. Foi-lhe recitado por José Inácio da Ponta, tendo-o publicado na Revista Lusitana, Nova Série,em 1966:
«Que fazeis aí, soldado, ao rigor da estação?»
«’stou metendo sentinela, aindas que nã seja um cão.»
A camisa era tão grossa, serviria de colchão.
«Ei-lo aqui o triste pago que dão a este batalhão.»
As calças eram tão largas, faziam sombra no chão.
«Ei-lo aqui o triste pago que dão a este batalhão.»
As meias eram tão ralas, boas de pescar camarão.
«Ei-lo aqui o triste pago que dão a este batalhão.»
Os sapatos eram tão grandes, palmo e meio de tacão.
«Ei-lo aqui o triste pago que dão a este batalhão.»
A comida era tão pouca, em vez de carne feijão.
«Ei-lo aqui o triste pago que dão a este batalhão.»
«Amigo se queres, vamos ao palácio reclamar.
Se o rei não te der razão, cá stou eu p’ra agrumentar.»
O rei nim uma num duas, como se fosse de pau.
A rainha antão dizia: «Deves de ser grande marau.»
«Eu não sou nenhum marau, nim pretendo a Angola;
Só quero o meu livramento, não peço nenhuma esmola.»