PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
QUEIJO DE CROSTES
Colostro é uma forma de leite de baixo volume segregado pela maioria das fêmeas dos mamíferos nos primeiros dias de amamentação pós-parto. Composto de vários factores para o desenvolvimento e protecção do recém-nascido, como água, leucócitos, proteínas e outros. O colostro vai se transformando gradativamente em leite maduro nos primeiros quinze dias pós-parto.
Dizem os livros que o colostro tem uma importante função na imunidade passiva de algumas espécies de animais, pois nele existe uma grande quantidade de imunoglobulinas, que em determinadas espécies não conseguem passar pela placenta, ficando a cargo total do colostro transferir da mãe para o filho. Além da quantidade de imunoglobulinas, o colostro distingue e diferencia-se do leite normal pela quantidade de sólidos totais. Com o tempo, essas diferenças vão diminuindo e essa secreção vai se transformando em leite absolutamente normal
O colostro é também a única substância capaz de eliminar todos os resíduos de mecónio do trato gastrointestinal da cria recém-nascida, ajudando o intestino a amadurecer e a funcionar de maneira eficiente, além de prevenir o aparecimento de alergias, infecções e diarreia, pelo adequado controle e equilíbrio das bactérias que se desenvolvem no seu intestino. No dia do parto o colostro apresenta-se ainda mais rico, daí se considerar que, para qualquer recém-nascido, as primeiras horas de vida serem chamadas por especialistas de "golden hours".
Como o colostro é rico em células imunologicamente activas, em anticorpos e proteínas protectoras, funciona como uma espécie de primeira vacina, protegendo p bebé contra várias possíveis infecções. O colostro ajuda a regular o próprio sistema imunológico em desenvolvimento, ajuda a proteger os olhos e a reduzir as infecções, a estimular os movimentos intestinais e ajuda na prevenção da icterícia.
No caso das vacas o colostro apresenta-se como um líquido fino, amarelo , semelhante à água-de-coco e tem um sabor adocicado.
Na Fajã Grande, antigamente, ao colostro, ou seja, ao leite dado pelas vacas depois de parir, chamava-se crostes. Acontecia que, depois de dar a cria, a maioria das vacas dava muito leite, pois eram muito bem tratadas, antes do próprio parte nos dias que se lhe seguiam. Alem disso, muitos vitelos nem bebiam o leite todo e, na maioria dos casos não bebiam nenhum, uma vez que naqueles tempos, não era hábito comer a carne dos vitelos, estes eram pura e simplesmente abatidos e enterrados logo após o parto. Apenas um ou outro se criava para fazer dele uma futura vaca ou um gueixo de engorda.
No entanto era necessário retirar o colostro ou os crostes da vaca nos dias que se seguiam ao parto. Mas como este não servia para desnatar ficava em casa, sendo uma parte dele utilizada na alimentação dos humanos e o restante deitado aos porcos. Assim uma parte dos “crostes” era consumida à ceia, em vez do leite tradicionalmente utilizado naquela refeição e comido com pão, bolo ou papas, no caso do pão e bolo sobre a forma de sopas. Outras vezes era, simplesmente, bebido sem nada, mas sempre depois de fervido. Mas ainda sobrava muito que era utilizada para fazer queijos – os tradicionais e célebres “queijos de crostes”. Estes queijos eram fabricados em grande quantidade pelo processo tradicional do fabrico do queijo com o leite normal, amornando um pouco os crostes e juntando-lhes de seguida o coalho líquido, comprado nas lojas e que na Fajã Grande existia em todas as casas. Depois de coalhado o colostro era colocado nas formas de lata, furadas nos lados e em cima duma tabuinha, suspensa numa celha, como se fazia com qualquer queijo.
Os queijos de crostes comiam-se frescos. Mas como se faziam em grande quantidade, sobravam alguns que punham a curar ao sol durante vários dias, ao mesmo tempo que se ia escoando o soro. O queijo ficava mais duro e adquiria a cor amarelada. Quero os frescos quer os curados eram excelentes e tinham um sabor adorável.