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RENASCIDA DA LAVA

Quinta-feira, 27.03.14

O povoamento do local onde hoje se situa a freguesia de Santa Luzia do Pico, remonta, muito provavelmente, aos primórdios da chegada dos primeiros povoadores à ilha montanha, neste caso oriundos do Faial e enviados por Joss Dutra que “estando à sua janela, vendo esta ilha do Pico, mandou um barco de gente para a povoar”. Fê-lo, no entanto, Joss Dutra, algum tempo depois de Fernando Álvares Evangelho, já ter entrado na ilha, pelo sul, saltando “em terra onde se diz o penedo negro, e com ele um cão que trazia”.

No entanto só quase dois séculos depois, em 1617, esta localidade foi elevada à categoria de freguesia, sob a invocação de Santa Luzia, tendo, durante os anos anteriores pertencido e estado dependente da vizinha freguesia de Santo António. Durante esses anos, nos finais do século XVI e a expensas de um dos seus habitantes, Vicente Pereira Furtado, foi construída uma ermida dedicada a Santa Luzia. Tratava-se de um templo pequeno, pobre e coberto de colmo que, apesar de tudo, serviu de igreja paroquial durante vários anos, situando-se, junto ao altar-mor, o túmulo do seu fundador.

Foi desta modesta ermida, destruída em 1718, a quando da crise sísmica e eruptiva que destruiu praticamente tudo o que era construção humana e cobriu a terra com uma espessa camada de lava, escoada em grande largura e por uma extensão de nove quilómetros, até ao mar, que nasceu a actual igreja paroquial de Santa Luzia. Porém a construção deste templo, já com a categoria de igreja foi lenta e por fases, dadas as dificuldades económicas existentes. Em 1800 voltou a ser reedificado, obtendo então, ao que parece, a fisionomia actual, embora sem as torres. Só em 1844 é que se procede à construção de uma das duas torres assimétricas que possui e só em 1876 é que foi pintado o retábulo do altar-mor e construída a outra torre.

Na ermida primitiva celebrou-se durante muitos anos, no início do povoamento, o culto pagão de oferenda dos olhos de animais, acompanhado por uma prece causada pelo medo de perder a visão. Possivelmente e porque a maioria das oferendas seriam olhos de galos, essa celebração ficou conhecida por Festa dos Galos. Mais tarde este culto terá sido “baptizado” pela igreja, dedicando o templo a Santa Luzia, padroeira dos oftalmologistas e dos que têm falta de visão.

A freguesia de Santa Luzia do Pico estende-se desde o interior da ilha até à orla marítima e é composta por várias localidades, como o Canto do Mistério, os Mistérios de Santa Luzia, os Fetais, o Lajido do Meio, o Meio Mundo, a Miragaia, a Ponta da Baixa, a Ponta Negra, a Rua de Cima, o Lajido, os Arcos e o Cabrito, localizados estes últimos, junto ao mar. É nestes lugares mais próximos do mar que existem várias ermidas como é o caso da Ermida de Nossa Senhora da Pureza, cuja construção recua ao século XVII, a Ermida da Rainha do Mundo edificada no mesmo século e a Ermida de São Mateus da Costa, construída no século seguinte.

 Além destas construções, a marca humana na paisagem da freguesia é ainda possível ver-se no Império do Divino Espírito Santo e em muitos outros edifícios que se evidenciam, pela sua grandiosidade arquitectónica.

Em Santa Luzia localiza-se uma das Zonas da Cultura da Vinha da Ilha do Pico, neste caso a Zona Norte, onde ao longo de muitos séculos se produziu um dos mais famosos vinhos Verdelhos dos Açores, que era exportado para a Europa continental, chegando a ser servido à mesa dos czares da Rússia. Este vinho tem o segredo da sua qualidade nas lavas negras, onde a pedra de cor preta era fortemente aquecida pelo calor do Sol, dando assim origem a um vinho licoroso, elevando-lhe o teor alcoólico.

A história desta freguesia é profundamente marcada por duas erupções vulcânicas, uma ocorrida no século XVI e uma outra nos princípios do século XVII, mais precisamente em 1718. Esta última erupção teve grande violência, tendo procedido à expulsão de grandes quantidades de lava, cujos rios, em alguns casos, chegaram a percorrer distâncias de nove quilómetros até atingirem o mar, entre o Porto do Cachorro e o Lajido, matando pessoas e animais, destruindo casas e campos, desfazendo tudo o que até aí havia sido construído e edificado pelo homem. Dos que sobreviveram uns decidiram reconstruir de novo e sobre a própria lava, aquilo que o infortúnio lhes havia retirado, outros, talvez porque totalmente aniquilados nos seus bens e nos seus haveres, decidiram partir. Um deles chamava-se José Pereira de Azevedo.

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publicado por picodavigia2 às 16:07





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